terça-feira, 11 de dezembro de 2018

ENTREVISTA João Luís Monteiro, um professor há 40 anos na Afonso de Albuquerque



João Luís Monteiro tem 62 anos, 41 de serviço, é professor de Físico-Químicas e está na ESAAG há 40 anos, feitos no passado dia 1 de outubro de 2018. Terminou o ensino secundário em 1973, fez depois o ensino superior, o estágio pedagógico na Esc. Secundária José Falcão em Coimbra e em 1 de outubro de 1978 estava regressado à sua escola. Como 40 anos é muito tempo, fomos falar com ele.

 É a pessoa mais “antiga” da ESAAG?
Sim, todos aqueles que cá encontrei em 1 de outubro de 1978, professores e funcionários, já saíram da escola, outros infelizmente já morreram. Acresce que andei também como aluno no Liceu Nacional da Guarda a partir de 1965/66, primeiro no antigo edifício (atual Esc. Santa Clara) e a partir de 69/70 no atual edifício até 1973. Tudo somado, são 48 anos.
Recorda ainda os seus primeiros dias como professor na ESAAG em outubro de 1978?
Claro que sim, como se fosse hoje. Vim encontrar na sala de professores muitos dos meus professores, as Drªs. Ofélia, Fernanda Cardinal, Marília Raimundo, os Drs. Bonito Perfeito, Alcindo Martinho, António José de Almeida, etc. E foi o professor António José que mais me ajudou a integrar, ele que tinha sido meu professor. Lembro-me também dos meus primeiros horários, que começavam à segunda às 8h30 e iam até ao sábado às 13h30.
Como era esta escola na altura? Mudou muito?
A grande diferença creio que estará nos alunos que temos, que são completamente diferentes, sobretudo ao nível da formação moral e humana. Na altura, muito mais respeitosos e capazes de acatar a autoridade e as indicações dos professores. Era mais fácil trabalhar. Quanto aos professores, vivia-se um ambiente em certa medida de professores “de elite”, que em geral se cultivava nos liceus em contraposição às escolas comerciais e industriais. O enquadramento era difícil, havia algum distanciamento em relação aos professores mais velhos.
E a sua postura mudou nesta sua relação com a escola?
Creio que não terei mudado muito. Sempre defendi que é importante manter a disciplina mas também afirmar a empatia com os alunos e foi esse o meu lema ao longo destes anos. Continuo a pensar que o balanço da minha carreira é muito positivo. Quanto à minha disciplina, Físico-Química, se hoje sou professor desta disciplina, devo-o a um professor fantástico que tive, Luís Amoreira. Quando encarei a hipótese de ser professor pensei “Quero ser como este homem”. Se não tivesse ido para Físico-Química, teria ido para Matemática, onde tenho por referência a professora Avelina Rainho.
Por seu lado, os professores António José de Almeida e Francisco Pissarra mostraram-me que, sendo-se muito bom numa área, se não se captar a empatia dos alunos, isso é uma lacuna grave.
As contínuas mudanças no sistema educativo conseguiram fazer-lhe perder a calma ou no fim de contas ensinar é sempre a mesma coisa?
As mudanças no sistema educativo nunca foram tão radicais que não pudesse integrá-las. Os alunos atuais é que são muito diferentes, com muitos interesses divergentes da escola. Por outro lado o nosso relacionamento com eles deixa-me às vezes pasmado. Hoje, para haver uma suspensão de um aluno, mesmo diante de comportamentos inqualificáveis, é preciso quase um milagre. O ato de ensinar é o mesmo nas aulas mas os alunos reagem diferente, pela educação que recebem, pelas perspetivas e pela massa de informação que têm à disposição. Há 40 anos havia “sede de saber”, hoje há mais alheamento.
Pode dizer-se que se sente realizado com a profissão?

Pela minha parte só posso agradecer à minha profissão o ter-me realizado tanto. Hoje, se tivesse que voltar atrás, enveredaria pela mesma profissão. É claro que há dias e dias e que há momentos em que por questões extra-escola desanimamos. Mas eu entro na escola e transfiguro-me. Numa sala de aula os alunos não têm culpa dos nossos problemas e é assim que reajo, tentando mobilizar os alunos. Gosto de estar aqui, de vir cedo para a escola e nas férias sinto mesmo saudades da escola.
Refira um ou dois aspetos nesta escola que o tenham marcado.
De negativo, acho que a requalificação da escola, em 2009, se trouxe algumas vantagens, não resultou em muitos aspetos, por exemplo na climatização. De positivo, dá-me grande prazer ver os nossos alunos realizados na sociedade e na vida profissional porque o sucesso dos nossos alunos é o nosso sucesso. Há sempre um bocadinho de nós no sucesso dos nossos alunos.
Quer referir alguns nomes de professores e funcionários que recorde mais?
A pessoa que mais me marcou nesta escola, tanto na minha vida de aluno como de professor, foi o professor António José de Almeida, pela sua postura e personalidade, de grande nível inteletual, cultural e de um trato pessoal a todos os níveis incomparável. Lembro-me por exemplo da viagem de finalistas ao Minho, acompanhado pelo professor António José de Almeida, a esposa, Margarida Almeida e o professor Joaquim Craveiro. Foi fantástico.
Tem vontade de se reformar? Ou nem por isso?
Este trabalho para mim é essencial, pelo que tenho mesmo muito receio do momento da aposentação. Tenho medo do momento em que já não terei de “ensinar”. Não sei fazer mais nada. Não tenho “hobbies”. Tenho medo de algum vazio que chegue. Um dia livre para mim é um dia vazio. Quando chegar aos 66 anos, vou hesitar se me vou reformar.

1 comentários :

  1. Que bom ler esta entrevista! Há Professores dos quais não nos esquecemos nunca. Pela postura profissional exemplar, pela clareza da matéria dada nas aulas, pelo cuidado connosco enquanto Director de Turma, pela palavra certa no momento certo: uma influência positiva para toda a vida! Obrigada por tudo, Stôr, saiba que é recordado com muito carinho :-)

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