"Pouco podemos fazer por estes alunos"
-Como podemos caracterizar a turma
vocacional do 8º ano?
R: Esta turma é
constituída por 29 alunos (demasiados) com várias repetências, facto revelador
das enormes dificuldades que estes alunos tiveram em acompanhar minimamente o
ensino regular ou simplesmente o alheamento que sempre apresentaram
relativamente à vida escolar. Estas características têm íntima relação com o
contexto socio-económico-familiar de cada aluno. Muitos destes alunos só
conhecem um dos progenitores, normalmente a mãe, muito embora esta figura, a
maternal, tenha também ela estado pouco presente no desenvolvimento destes
alunos enquanto crianças, normalmente por razões laborais. Ficou assim a faltar
uma educação para os valores, ou por incompetência ou por falta de tempo, que
se reflete na postura atual destes jovens.
-Como foram os resultados do 1º período?
R: Os resultados
foram razoáveis para alguns alunos, mas sofríveis para uma maioria. Apesar do
nível de exigência ser claramente reduzido, por comparação com o ensino
regular, estes alunos mostram fraquíssimas aptidões cognitivas. O absentismo é,
a par da indisciplina, o grande problema desta turma.
-Faça o balanço em termos disciplinares até
ao momento.
R: Alguns destes
alunos têm vindo a desenvolver progressivamente comportamentos desadequados e
reprováveis em contexto escolar, havendo um anormal número de faltas e
processos disciplinares por comparação com o ensino regular. A situação tem
vindo a agravar-se dada a cumplicidade e a conflitualidade entre os alunos. Os
problemas disciplinares mais frequentes são a conversa em sala de aula, que
ocorre constantemente, pois como o aluno não gosta de aprender, também não sabe
ouvir; outros alunos emitem guinchos durante as aulas; alguns, enquanto se
balançam nas cadeiras, conversam e riem em voz alta com os colegas que até
podem estar no canto oposto da sala de aula, como se estivessem no intervalo.
Outras participações disciplinares prendem-se com atitudes graves de
desrespeito para com os adultos e até para com os colegas e ainda com situações
de vandalismo do material escolar. Estas são as queixas mais frequentes,
escritas nas várias participações disciplinares, que mostram claramente que
estes alunos nunca quiseram aprender a estar numa sala de aula, não reconhecem
as regras e não acatam aquilo que os professores lhes querem transmitir.
-Que medidas preventivas podem ser tomadas?
-R: Como um
grande número destes alunos não tem interesse no sucesso escolar e está na
escola contrariado, as medidas que poderiam ser tomadas são escassas. Temos
tentado envolver a família, mas como aquela nunca foi competente para o
processo educativo, os problemas avolumam-se. Este tipo de curso deveria ter
técnicos competentes para acompanhar e trabalhar socialmente estes alunos. Só
assim se poderia fazer um verdadeiro trabalho de integração social, recuperando
muitos destes meninos e meninas de uma eventual marginalidade. Tal como o curso
está desenhado, o corpo docente e a escola nada podem fazer, pois temos poucos
meios para atuar.
-As aprendizagens propostas a estes alunos
são úteis, eficazes e adequadas?
R: A filosofia
inerente à conceção deste curso é boa, mas na prática não funciona porque não
há meios. Os alunos queixam-se que o curso é demasiado teórico, que passam
imenso tempo sentados na sala e que têm enorme carga horária. Eu revejo-me
também nestas críticas. Para alunos com estas características, o curso deveria
ser mais aligeirado, ou seja com maior componente prática e menor carga
horária. Este curso está estruturado apenas para as estatísticas. Lamento que
não sejam dados à escola meios para trabalhar seriamente com este tipo de
alunos. Pela curtíssima mas já intensa experiência que tenho em cursos
vocacionais, discordo em absoluto da constituição de turmas com estas
características. As aprendizagens fazem-se muito por imitação de atitudes,
comportamentos, linguagem e, quando se olha à volta e nada de bom existe, o
processo torna-se complicado. Eu tenho recebido desabafos de pais e alunos da
turma e partilhamos o mesmo descontentamento.
0 comentários :
Enviar um comentário
Os comentários anónimos serão rejeitados.