sexta-feira, 2 de maio de 2014

25 de abril 40 anos - 35 - Um texto de José Manuel Romana

  José Manuel Romana, ex-professor da ESAAG, atualmente aposentado, escreve sobre a participação dos jovens do Liceu na oposição ao regime de antes do 25 de abril.

                   25 de abril na Guarda

 As revoluções, quando surgem, são sempre resultado de uma “fermentação” de ideias e de atos, ocorrida ao longo de um certo tempo. Não há geração espontânea, nem na ciência nem nos movimentos abruptos de natureza político-social.
O 25 de Abril existiu porque, antes, durante a ditadura do Estado Novo, houve quem lhe resistisse de formas variadas. A participação dos jovens, a vários níveis, foi importante e, nalguns casos, decisiva. Recordemos as lutas dos estudantes universitários em diferentes momentos e as dos estudantes católicos progressistas, membros da JUC e da JEC. Foram pequenos ou grandes contributos (não sei ajuizar) para o derrube de um regime político autoritário e repressivo de má memória.
Aqui, na Guarda, em 1969, nas eleições para a Assembleia Nacional (era este o nome do atual Parlamento) muitos jovens do antigo Liceu Afonso de Albuquerque participaram, à sua maneira, na campanha eleitoral da oposição. Eram, então, alunos do 6º. e 7ºanos. Alguns “grandinhos e de barba” e algumas jovens casadoiras. Distribuíram propaganda, escreviam e policopiavam os comunicados a “stencil” e demais material até provocarem queixas do Governador Civil, Dr. Mário, dirigidas à Oposição e endereçadas ao grande nome e personalidade política da Guarda, Dr. João Gomes. Também recordá-lo é salutar para a vivência de Abril, nesta Comemoração dos 40 anos.
Tenho comigo esses documentos de troca de “mimos”. Vou tentar resumi-los, transcrevendo partes. Do Governador Civil: “ A participação de jovens não eleitores em atividades relacionadas com ato eleitoral que amanhã se realiza tem sido encarada com o mais largo espírito de tolerância por parte das autoridades, como é do conhecimento de V. Exª. Entendeu-se, com efeito, que poderia aceitar-se a sua colaboração como executantes de simples tarefas materiais, nomeadamente na distribuição de material de propaganda autorizada, logo que não houvesse perturbação da ordem pública, como felizmente sempre aconteceu. Já o problema da distribuição das listas reveste aspetos diferentes e cria problemas que urge disciplinar. (…) Tendo em conta aquelas fundadas suspeitas e este risco - que só aos pais compete julgar- venho solicitar a V. Ex.ª. que se digne habilitar todos os menores…com uma credencial assinada…e ainda com autorização escrita do poder paternal, documentos que terão de exibir com B.I., sempre que lhe sejam solicitadas pelas autoridades policiais. Nesta sentido são dadas instruções às mesmas autoridades (…)”
A resposta do Dr: João Gomes foi incisiva e rápida: “ A participação dos jovens, não eleitores, e até de quaisquer outros, não foi procurada nem solicitada, nem pelos candidatos Democráticos, nem pela Comissão Eleitoral que os apoia, antes sim tem constituído uma adesão livre, espontânea e da iniciativa absoluta deles próprios. (…) E quero crer que algumas dessas queixas, não devem ser justas, até porque os Autores delas, talvez possam incluir-se entre aquelas pessoas que não têm tido educação suficiente para receber com o devido respeito as listas que lhe são apresentadas, e que em bom civismo, deviam ser recolhidas, para que pudessem consciente e livremente exercer o seu direito de voto. (…) Pois, efetivamente, enquanto as listas da União Nacional têm sido distribuídas principalmente por empregados administrativos, as listas dos Candidatos Democráticos têm de ser entregues por estes nossos amigos, e sempre voluntários, que se desejam entregar a uma atividade que, por si, tem de considerar-se de atividade em benefício de todo o público e de toda a coletividade. (…)”.

José Manuel Trigo Mota da Romana

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