De todas as sessões de
sensibilização realizadas por pessoas do exterior do núcleo escolar, que
intervêm com o fim de cativar os nossos ouvidos, esta última foi a mais
marcante.
Carlos Brito, antigo dependente de
álcool, hoje Presidente da Delegação de Alcoólicos Recuperados da Guarda,
visitou a nossa escola no passado dia 28 de janeiro. A sua história, relatada
na primeira pessoa, chocou com as nossas fantasias. Os momentos dramáticos foram
muitos, como era de esperar perante alguém dependente de alguma substância, como
é o álcool. Enquanto as palavras envergonhadas de Carlos Brito iam sensibilizando
o auditório, imagens e fotografias iam acompanhando o seu discurso. Retalhos de
um passado pautado pelo consumo de grandes quantidades de álcool. Para ele, os
momentos mais confrangedores foram os episódios de embriaguez perante os seus
familiares, que sentiam vergonha pública.
Caímos, muitas vezes, na crítica
fácil, sem sabermos as razões pelas quais as pessoas chegam às dependências.
Nos dias de hoje, as crianças e jovens são alertados e educados para a
prevenção do consumo de substâncias aditivas. Há mais de sessenta anos, a realidade
era muito diferente. O vinho, por exemplo, era considerado, não uma bebida prejudicial,
mas sim um alimento, consumido diariamente, vulgarizando-se o seu consumo.
A aceitação social do consumo de
bebidas alcoólicas não foi o único fator que conduziu Carlos Brito ao
alcoolismo, tendo o convívio com parentes próximos, consumidores excessivos de
álcool, contribuído, também, para a situação de doença a que chegou. Neste caso
salientou o alcoolismo do seu pai. Enquanto jovem, assistiu à sua tentativa de
suicídio, sendo a página mais escura e marcante da história de vida de Carlos. O
dia em que levou o seu pai de urgência para o Hospital foi o fim de linha a que
o álcool o tinha conduzido. O primeiro dia do resto da vida do pai de Carlos,
com a promessa, que cumpriu, que nunca voltaria a embriagar-se.
Depois dos relatos marcantes, que
só a realidade dá, fomos informados de todas as consequências resultantes do
consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tanto a curto como a longo prazo, e o
estigma social que pode advir se nos deixarmos vencer pela dependência
alcoólica.
Conhecemos, também, o trabalho
meritório desenvolvido pelo Núcleo da Guarda dos Alcoólicos Recuperados. Este
núcleo ajudou a recuperar mais de 1.875 alcoólicos, tendo contribuído, por
subtraírem rapidamente o alcoólico do contexto familiar e o encaminharem para a
recuperação, para que a região apresente a menor taxa de violência doméstica associada
a esta doença.
A realidade dura que pudemos
apreender servirá certamente para derrubar os mitos que povoam as mentes de
muitos dos jovens: o álcool não traz felicidade, não dá alegria e não diverte.
Dizer não ao consumo de álcool é dar uma oportunidade à vida.
Este texto foi elaborado pela aluna
Matilde Almeida, do 9ºA, contando ainda com a colaboração dos seus colegas de
turma e da sua professora Elsa Salzedas. A sessão foi promovida pelas
professoras Elsa Salzedas e Lurdes Coelho do Clube de Saúde e por Carlos Brito,
presidente da Delegação da Guarda dos
Alcoólicos Recuperados.
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