Este
texto surgiu antes da apresentação do livro A (IM)PERFEIÇÃO DOS DIAS, de José
Manuel Monteiro, na BMEL, no dia 5 de dezembro, e a partir de uma frase de
Mafalda Milhões exposta num cartaz junto à nossa Biblioteca e que diz: “Uma
biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente.”. Foi escrito e lido por José
Manuel Monteiro na sessão referida e hoje na sessão da ESAAG, na Biblioteca
Escolar Vergílio Ferreira.
Um
livro é uma casa onde cabem muitas vozes. E como há casas grandes, médias e
pequenas assim também acontece com os livros. Este é um livro modesto e quer
apenas ser o eco de múltiplas vozes que o rodeiam e o tornaram possível. Que o
fizeram respirar. Que o fizeram pulsar. Que o fazem permanecer vivo.
Que
vozes são essas?
1.a voz da poesia: atraente, sedutora, simbólica, maviosa,
denunciadora, laudatória, musical. Os poemas acontecem, como dizia Fernando
Pessoa e Sophia Andresen. Surgem, insinuam-se, crescem e amadurecem nas folhas
límpidas dos livros. A poesia é a voz da vida.
2.a voz das raízes: somos o que somos porque alguém nos ensinou a ser,
a estar, a enfrentar a vida. Somos o que somos porque alguém nos deu a vida e a
fala. No sangue, no seio alimentador, no puxão de orelhas na hora certa ficou a
marca de quem nos precedeu, de quem nos alimentou a alma e nos ofertou o
exemplo a seguir. Quem diz raízes, diz família.
3.a voz dos poetas: que lemos, que nos deliciam ou nos arranham o
espírito para nos fazer despertar. A clareza de Sophia, a genialidade de
Pessoa, o rigor de Eugénio, o cheiro a urze e a terra molhada de Torga. E
quantas mais vozes que continuamente nos arrebatam, nos empolgam, nos levam
para o mundo da fantasia poética e literária.
4.a voz da cidade: no frio, na neve, no prosaísmo dos pardais a
saltitar, no ruído das ruas a empalidecer com os últimos raios de um sol
poente. Nas leituras de Augusto Gil e de Nuno de Montemor, de Vergílio Ferreira
e Manuel António Pina, nas memórias de Eduardo Lourenço e de Bonito Perfeito,
de Manuel Poppe e de Virgílio Afonso.
5.a voz das
pessoas: dos colegas que nos
animam, dos alunos que puxam por nós, dos amigos que nos incentivam a registar
para o futuro as palavras que mastigamos.
6.a voz da lua: seja ela quem for ou o que for. Ignota e
persistente inspiração umas vezes fértil e fluente, outras infértil e perra.
Umas vezes em lua cheia de plenitude, outras lua nova desaparecida.
7.a voz da música: as harmonias fecundas que enredam as palavras no
doce sabor das ideias.
E mais vozes haveria a enumerar, mas
fundamentalmente são estas que percorrem as páginas (cheias) deste livro. Que
sejam alívio e conforto nas alegrias ou nas tristezas da vida. Com alegrias e
tristezas nasceram porque elas também são a vida. Como a poesia é a vida.
José Manuel Monteiro

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