Um coração
do tamanho do mundo!
O Natal está a chegar e lá em casa anda tudo triste.
As contas para pagar são mais do que o valor dos ordenados dos meus pais.
A mãe já disse:
- Este ano, não há presentes para ninguém! E vamos ver
se conseguimos ter uma ceia de Natal com alguma qualidade.
Vejo o pai preocupado e sempre a fazer contas e mais
contas.
Então pensei e disse:
-Porque não aproveitamos as promoções? Eu não me
importo de pegar nos jornais de promoções dos Hipermercados e ver quando e o
que podemos comprar.
A mãe achou boa ideia mas, mesmo assim, era preciso
que houvesse algum dinheiro.
Como vivemos perto do Pingo Doce, no dia seguinte fui lá dar uma volta. Passei nos
corredores, olhei os preços e apontei alguns. Uma senhora de bata preta e verde
com as palavras Pingo Doce bordadas
viu-me e perguntou-me:
- Para que queres os preços?
Eu contei-lhe a
minha ideia para ajudar os meus pais. Ela disse que eu era bom menino e que
por isso me iria ajudar. Pediu-me que passasse lá no dia seguinte.
Fui para casa muito contente, mas não contei nada aos
meus pais. À noite, fui para a cama e, de tão contente que estava, adormeci
logo de seguida. Foi uma noite muito tranquila.
Ao acordar, pensei que durante o dia teria de ir
ao Pingo Doce. Depois das aulas fui
a casa deixar a mochila e depois fui a correr até ao hipermercado.
Entrei, procurei a senhora por todo o lado, mas não a
encontrei.
Encostei-me à porta de entrada e pensei que tudo não
tinha passado de um sonho. Ainda bem que não tinha contado nada aos meus pais,
pois iria dar-lhe expectativas erradas.
Envolvido nos meus pensamentos, nem dei conta que a
senhora de bata preta e verde estava ao meu lado! Fiquei nervoso quando ela me
chamou e me disse:
- Olha, tens aqui um cabaz Pingo Doce. Tem bacalhau, bombons, queijo, alguma fruta e um vale
de 50,00 euros para a tua mãe vir comprar o que mais precisar. Assim poderás
ter uma Ceia de Natal melhor.
Não cabia em mim de contente. Atrapalhado, perguntei:
- Quem me deu isto tudo?
- Foi o gerente desta loja. Eu contei-lhe a tua
história e ele quis logo ajudar!
- Posso vê-lo e agradecer-lhe pessoalmente?
- Não, meu amor, ele está muito ocupado a preparar
cabazes para outros meninos como tu! Mas eu digo-lhe que tu agradeceste muito.
A caminho de casa, na mão levava a razão de muita
alegria mas no coração a pena de não ter podido conhecer aquele senhor tão
generoso! Pensei como seria: magro, gordo, velho, novo? Não importa, ele tem um
coração do tamanho do mundo! Talvez por isso a loja se chame Pingo Doce!
Catarina Calçada
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