A pedido do Jornal Expressão irei
escrever sobre esta Prémio Nobel que é mulher admirável, sensível e original. Svetlana
Alexievich, de 68 anos, nasceu em Stanislav, a 31 de Maio, na Bielorrússia e foi
Prémio Nobel em 2015. Este foi o primeiro prémio Nobel diferente, atribuído a
alguém de fora da literatura clássica.
Apesar da sua formação superior em
Jornalismo na Universidade de Minsk , Svetlana destaca-se com um novo género
literário, a Novela Coletiva, uma área indefinida, entre o jornalismo e a
ficção. No fundo a sua obra hibrida jornalismo e literatura, reunindo um vasto
espólio de testemunhos pessoais, profundamente emotivos e fortes, de pessoas
que vivenciaram acontecimentos traumáticos, como guerras ou catástrofes, como o
desastre nuclear de Chernobyl. A partir destes cria crónicas pessoais da
história dos homens e mulheres soviéticos e pós-soviéticos.
Livros como O Fim do Homem Soviético, Vozes
de Chernobyl ou a A Guerra não tem
Rosto de Mulher são verdadeiras obras literárias criadas a partir de
centenas de entrevistas a homens e mulheres – “ Romance de Vozes” – onde a autora privilegia narrativas íntimas,
individuais de gente comum. No fundo pretende revelar uma outra face da
história, aquela que está afastada do poder, que pertence ao povo.
Sobre a seleção dos depoimentos e a
construção da sua narrativa, Svetlana compara-a à obra que nasce de uma
escultura e tal como o escultor deita fora os pedaços de pedra sobrantes, ela
também apaga o que não interessa dos depoimentos que reuniu.
Sobre a escolha das pessoas para as
entrevistas, vai dizendo que lhe interessa mais registar “a lavadeira, pessoa
muito simples, que explicava como percebia os horrores da guerra pelas marcas
deixadas na roupa como por exemplo, se havia um casaco sem manga é porque
alguém perdera um braço; uma camisa com um buraco no peito significava um tiro
no coração; alguém que relatava que as roupas eram lavadas com lágrimas, num depoimento
profundamente emotivo do que, por exemplo, uma patente militar feminina,
condecorada, uma mulher brava e corajosa, mas que só dizia, fiz isto e aquilo, substituí
o soldado que estava na metralhadora, salvei dois feridos ... uma mulher que
falava como um homem, sem emoções, sem interesse para a construção do seu “
Coro de vozes”. “
O interesse desta escritora neste
tipo de depoimentos vem da sua infância, vivida numa aldeia eslava, onde
praticamente só existiam mulheres e crianças. A maioria dos homens tinha
morrido durante a guerra. Ela passava o tempo a ouvir falar da guerra, das
perdas, do sofrimento e do horror. As conversas eram muito duras e sempre à
volta da morte e estes sentimentos despertavam-lhe muito interesse e sempre
quis registar estas memórias.
Ainda sobre Chernobyl vai dizendo
que percebeu que as pessoas não entendiam o que era a radiação (algo que não se
vê, não se cheira e não se sente ..). “Quando se deu a explosão”, relata, “houve fumo negro, mas depois o fumo
desapareceu e à noite via-se uma nuvem cor-de-rosa. As pessoas vinham de todo o
lado, traziam as crianças para lhes mostrar aquela luz cor-de-rosa. As pessoas
não faziam ideia dos perigos que estavam a enfrentar. “
Está neste momento a construir um
livro sobre o amor, um tema que a atrai imenso, pois “constitui uma dimensão
essencial do ser humano, ligada a um dos seus principais impulsos: a tentativa
de ser feliz.”
Depois de ter ganho o Nobel, diz
que continua a mesma pessoa, mas passou a viajar mais. Quando há pouco tempo se
encontrou com a secretaria permanente da academia sueca, esta perguntou-lhe : “Svetlana,
tu pelo menos em casa, por baixo do cobertor, deves pensar ‘Ah, ganhei o
Nobel!’”. Mas não , não pensa assim.
Elsa Salzedas (prof. Biologia e Geologia)
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