domingo, 26 de março de 2017

O MEU NOBEL - 6 José Neto aponta para Lobo Antunes



Ao analisar a lista de todos os escritores que foram galardoados com o prémio Nobel, verifiquei que, ao longo dos anos, fui lendo alguns sem suspeitar que tinham sido premiados (Bernard Shaw, Camus, Sartre, Pirandello, Beckett, Hermann Hesse, Hemingway, Soljenítsin…). Procurei ler outros depois de saber que tinham recebido o prémio (Coetzee, Modiano…). E tive a sorte de ler e admirar antecipadamente alguns autores que vieram a ser galardoados (García Márquez, Günter Grass, Vargas Llosa e, é claro, o nosso José Saramago).

Lembro-me da primeira obra que li do García Márquez, O Outono do Patriarca. Fiquei tão impressionado com a sua maneira de escrever, com o seu realismo fantástico, que não descansei enquanto não li praticamente todos os seus livros, novelas e romances, muitos deles em espanhol.

O primeiro romance que li do Saramago foi O Memorial do Convento. A princípio, a sua leitura mostrou-se um pouco difícil: obriga-nos muitas vezes a voltar atrás, a fim de reler uma fala que é introduzida apenas com uma vírgula, sem travessão nem parágrafo (a sua forma de escrever fez-me lembrar García Márquez e o nosso Dinis Machado, em O que diz Molero e, ao contrário do que muito pseudoleitor diz, como desculpa para não ler Saramago, as vírgulas aparecem em abundância). Depois do Memorial do Convento, cuja leitura é viciante, continuei admirador do Saramago e tenho quase toda a sua obra, lida e, alguma, relida. 

Penso que a Língua Portuguesa, falada por tantos milhões e com tantos e tão bons autores, devia estar mais representada na lista dos prémios Nobel. A academia sueca perdeu uma grande oportunidade quando deixou morrer Jorge Amado sem o galardoar. O autor e o grande país mereciam.

Prognósticos:

Apesar de o considerar com pouca vocação para a modéstia, penso que Lobo Antunes será um dos próximos laureados. Desde o seu primeiro livro, Memória de Elefante, tenho acompanhado toda a sua obra. Confesso que os seus últimos romances já me custaram a ler, necessitando de muita ginástica mental para acompanhar o enredo (apesar de o autor afirmar que todos os livros que escreveu e os tês que ainda lhe falta escrever, isto é, todos os seus romances, serem apenas um único livro). Penso que o autor tem razão quando diz que revolucionou a maneira de escrever, tanto na forma como no desenrolar da trama.

Se a academia sueca se virar para os cantautores, o nosso Sérgio Godinho poderá ser, daqui a uma dezena de anos, um digno sucessor do Bob Dylan: a sua obra é extensa, mais de vinte e sete álbuns; a qualidade e a mensagem das canções não são inferiores às de Dylan e a prosa (pelo menos a infantil), é de qualidade. E não esqueçamos que começou a escrever romances.

     José Neto (professor do 1º ciclo)

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