Ao analisar a lista de todos os
escritores que foram galardoados com o prémio Nobel, verifiquei que, ao longo
dos anos, fui lendo alguns sem suspeitar que tinham sido premiados (Bernard
Shaw, Camus, Sartre, Pirandello, Beckett, Hermann Hesse, Hemingway, Soljenítsin…).
Procurei ler outros depois de saber que tinham recebido o prémio (Coetzee,
Modiano…). E tive a sorte de ler e admirar antecipadamente alguns autores que
vieram a ser galardoados (García Márquez, Günter Grass, Vargas Llosa e, é
claro, o nosso José Saramago).
Lembro-me da primeira obra que li
do García Márquez, O Outono do Patriarca.
Fiquei tão impressionado com a sua maneira de escrever, com o seu realismo fantástico, que não descansei
enquanto não li praticamente todos os seus livros, novelas e romances, muitos
deles em espanhol.
O primeiro romance que li do Saramago foi O Memorial do Convento. A princípio, a sua leitura mostrou-se um
pouco difícil: obriga-nos muitas vezes a voltar atrás, a fim de reler uma fala
que é introduzida apenas com uma vírgula, sem travessão nem parágrafo (a sua
forma de escrever fez-me lembrar García Márquez e o nosso Dinis Machado, em O
que diz Molero e, ao contrário do que muito pseudoleitor diz, como desculpa
para não ler Saramago, as vírgulas aparecem em abundância). Depois do Memorial
do Convento, cuja leitura é viciante,
continuei admirador do Saramago e tenho quase toda a sua obra, lida e, alguma,
relida.
Penso que a Língua Portuguesa,
falada por tantos milhões e com tantos e tão bons autores, devia estar mais
representada na lista dos prémios Nobel. A academia sueca perdeu uma grande
oportunidade quando deixou morrer Jorge Amado sem o galardoar. O autor e o
grande país mereciam.
Prognósticos:
Apesar de o considerar com pouca
vocação para a modéstia, penso que Lobo
Antunes será um dos próximos laureados. Desde o seu primeiro livro, Memória de Elefante, tenho acompanhado
toda a sua obra. Confesso que os seus últimos romances já me custaram a ler,
necessitando de muita ginástica mental para acompanhar o enredo (apesar de o
autor afirmar que todos os livros que escreveu e os tês que ainda lhe falta
escrever, isto é, todos os seus romances, serem apenas um único livro). Penso
que o autor tem razão quando diz que revolucionou a maneira de escrever, tanto
na forma como no desenrolar da trama.
Se a academia sueca se virar para
os cantautores, o nosso Sérgio Godinho
poderá ser, daqui a uma dezena de anos, um digno sucessor do Bob Dylan: a sua obra
é extensa, mais de vinte e sete álbuns; a qualidade e a mensagem das canções
não são inferiores às de Dylan e a prosa (pelo menos a infantil), é de
qualidade. E não esqueçamos que começou a escrever romances.
José Neto (professor
do 1º ciclo)
0 comentários :
Enviar um comentário
Os comentários anónimos serão rejeitados.