domingo, 20 de agosto de 2017

OFICINA DE ESCRITA 2016/17 (9) Textos com NARRADORES IMPREVISÍVEIS do 10º A

10º A
      Textos resultantes da Oficina de Escrita dinamizada por Luís Chaves e promovida pela BMEL em colaboração com a Bibl. Escolar Vergílio Ferreira em março-maio 2017 na ESAAG


       E se um narrador inimaginável se pusesse a contar uma história, vista agora do seu lado? Do lado de uma personagem imprevista ou de um simples objeto de uma sala ou de uma paisagem.

Metamorfoses
É de manhã, estou virada para a janela, ainda ontem saí do embrulho e já estou aqui a observar as pessoas a passear na rua. A paisagem é linda, tanta cor, tanto movimento, quem me dera ter algo assim pintado em mim…
Surge um homem à minha frente, nem muito velho nem muito novo. Ele prepara tudo para transformar-me numa bela obra de arte, espero eu. Pega no pincel, mergulha-o na tinta e começa a pintar-me. Como é boa a sensação da tinta fresca a passar por mim, da cor que se espalha pelo meu corpo…
Quando estava na loja era só mais uma no meio de tantas outras, agora serei algo mais. O homem continua a pintar-me e há uma explosão de cores em mim. Ele pinta mais um bocadinho e acaba por hoje, amanhã será outro dia.
Passados alguns meses, já estou quase acabada, o meu pintor faz a careta do costume, quando se tenta inspirar, diz que falta algo em mim… sai do quarto e deixa-me sozinha. Fico a observar a paisagem e vejo o meu reflexo na janela. Reparo que o que tenho pintado em mim é a linda paisagem que tenho admirado todo este tempo, tanta cor, tanto sentimento, sinto-me completa.
Já é de noite, o pintor entra calmamente no quarto, parece que arranjou inspiração num outro sítio, pega no pincel e acabo por adormecer com o suave toque dos pelos…
Quando acordo, estou num sítio diferente, vejo tudo de pernas para o ar, consigo ver carros, pessoas, edifícios, uma torre enorme e um museu. Estou embrulhada num papel, mas consigo ver para onde vou através de um pequeno rasgão, o pintor leva-me em direção ao museu. Ele abre a porta, conversa com uns homens durante uns minutos, e dirige-se para uma grande sala, desembrulha-me e pendura-me numa parede. Vejo tudo de outra perspetiva, à minha frente tenho também uma janela com uma paisagem diferente. Observo toda a sala, vejo muitas outras telas pintadas, todas são diferentes e únicas como eu; estou numa exposição, mas ainda está fechada.
Durante toda a minha vida, nunca pensei em ser admirada, numa exposição de arte, por tantas pessoas durante o dia inteiro; toda a gente me observa, veem todos os meus pormenores, parece que gostam de mim. Cada pessoa que me vê, olha-me de forma diferente, aliás todas as pessoas que passam por aqui são diferentes e têm sentimentos também diferentes ao observar-me. Adultos, idosos, crianças, adolescentes, uns sorriem, uns choram, outros observam-me simplesmente. Como é possível uma simples tela transmitir tantos sentimentos?
Num balcão consigo ver o pintor, como ele observa orgulhosamente as suas belíssimas pinturas, as suas obras de arte, as pessoas que o admiram e aos seus quadros… Por vezes, quando o dia acaba e a exposição fecha, ele dá uma volta à exposição, depois vem ter comigo e fica ali a observar-me durante algum tempo e eu sinto-me feliz por me ter transformado numa obra de arte tão linda. Às vezes, ainda me pergunto o que simboliza a minha pintura para ele: será que ele olha para mim para se recordar de algo ou alguém importante para ele? Um dia talvez o saberei…
Madalena Fonseca

Todos os dias alguém me experimentava… Depois era limpo pela dona de loja que voltava a colocar-me naquelas grandes vitrinas, onde o sol batia logo pela manhã. Muita gente passava ali, dirigiam-se apressadas para o trabalho e não tinham tempo de olhar para mim. Isto entristecia-me. Outra coisa, que me entristecia e enraivecia, eram as malditas lentes de contacto, olhavam-nos de lado porque achavam que estavam na moda!
Certo dia, alguém apareceu e despertou em mim um fascínio inexplicável… Primeiro, olhou para os meus amigos, o que me entristeceu, depois olhou para mim, e o meu coração disparou. Ela era alta, tinha olhos negros, cabelo loiro e comprido. As palpitações do coração aumentaram, senti que era naquele rosto perfeito que eu devia estar. Colocou-me na cara, senti o toque dela, a pele macia e percebi que era ali que queria ficar para sempre. A rapariga, com bastante hesitação, levou-me e tornámo-nos «amigos» inseparáveis. Andava com ela para qualquer sítio que fosse. Apaixonei-me completamente por ela!
O pior momento dos meus dias era quando ela ia dormir: colocava-me na mesinha de cabeceira e esquecia-se completamente de mim. O meu sonho era um dia poder dormir agarradinho a ela, mas isso nunca seria possível…
Mesmo sem saber, o pior dia da minha vida aproximava-se. Após anos de cumplicidade, chegou o momento de separação… Ela havia arranjado um par das minhas inimigas (as malditas lentes de contacto) e abandonou-me numa gaveta onde nunca mais me procurou…
Ana Lúcia Martins

Tenho uma vida parada, cheia de rotinas. Na primavera, costumo ficar florida, no outono, as minhas folhas mudam de cor. Passo os dias quieta. Olho em meu redor e vejo as minhas irmãs, também o quotidiano delas é monótono.
Nas manhãs de primavera, sirvo de sombra a famílias inteiras, que buscam o campo para passear. No verão, passam por mim multidões, que fazem as caminhadas ao fim da tarde, e contemplam as minhas flores a desabrochar. É nesta época que costumo observar os agricultores, a apanharem os frutos da época pelo prado, e imensos jovens a caminhar junto ao leito do rio, para aí se refrescarem. Mas é nos dias frios, tempestuosos, em que a chuva alaga as minhas raízes e a geada cobre os meus ramos, que tenho vontade de ter pernas, de ter uma casa e o conforto de uma lareira, enfim, descansar!
Tenho ouvido dizer a uns senhores, que já passaram por aqui algumas vezes e tiraram apontamentos, que vou ser muito útil. Não sei exatamente o que querem dizer com aquilo, mas algo me diz que irei mudar de ares; conhecer pessoas novas, novos climas, ares diferentes... o que eu sempre quis.
Passado algum tempo, ali estavam eles, vinham buscar-me!  Na companhia de grandes máquinas e camiões, levaram-me e às minhas irmãs. Estava tão entusiasmada.
Ao chegar ao destino, deparei-me com um armazém imenso, cortaram-me aos pedaços e começaram a colocar-me em embalagens. Não sabia ao certo o que estava ali a fazer, nem o que iria acontecer, porém, estava feliz! 
Cheguei, por fim, a uma escola em construção e ouvi de imediato que iria servir para conceber mesas e cadeiras para os meninos aprenderem. E agora, aqui estou eu, sou uma mesa cheia de utilidade, e a minha vida em nada se compara a quando era uma árvore!
Beatriz Costa

Depois de vários dias de trabalho intenso e de muita concentração, um mês precisamente, entro num dia decisivo, talvez um dos mais felizes da minha vida, o dia 11 de julho de 2016. Nesse dia, todas nós tínhamos a crença e a esperança de que este iria ser o nosso dia. Parte da promessa, feita pelo nosso “mister” a Portugal, e na qual eu me revia, estava completa, só sairíamos de França depois do dia 11, mas faltava ainda a segunda parte do prometido.
Depois de um enervante e longo dia, chega a hora do início da partida, 19:45, na hora de Portugal, ou 20:45, na hora de França. Foi uma partida muito bem disputada pelas duas seleções, até que se passam os 90 minutos da partida e chega o tempo do prolongamento, em que continua a haver a esperança de conseguirmos o objetivo. Finalmente, sensivelmente a meio da segunda parte do prolongamento, torno-me famosa e coloco o nome de Portugal na boca de todo o mundo. É nesse preciso momento que o golo acontece e foi do meu corpo, concebido especialmente para estes importantes jogos, que saiu, antes de entrar na baliza adversária. Houve festa desde esse instante, mesmo sabendo que o jogo ainda não tinha terminado, mas os nossos corações diziam que desta vez o título seria nosso, e assim aconteceu.
Nas horas e dias seguintes, a este jogo histórico, foi a festa e a alegria que reinaram em todos os pontos do mundo, mas as celebrações mais efusivas ocorreram em Portugal e na nossa chegada ao aeroporto Humberto Delgado.
Neste momento, encontro-me num camião a percorrer todo o país, com a minha companheira também utilizada pelo Éder, numa vitrine, e ao lado do troféu de todos os portugueses, a taça do europeu. Assim, posso ser admirada por milhões de portugueses e alguns estrageiros, que vivem de norte a sul do país, e que sofreram e acreditaram na nossa vitória.
Beatriz Lucas

Olá! O meu nome é Godofreda. Vou contar a minha bela história de vida.
Fui fabricada na China, sou feita de carbono e tenho as melhores crinas de cavalo. Quando entro em vibração, com as cordas de um bom violino, produzo um som muito agradável, que os humanos adoram. Fui colocada numa caixa ao lado de um valioso violino chamado Godofredo.
Depois de longos meses de conversa, certo dia fomos colocados num camião para sermos levados até Portugal, onde ficaríamos numa bela loja situada na cidade da Guarda.  A viajem começou, durou muito tempo, talvez meses, não sei precisar. Foi horrível, foram muitos balanços, muito tempo fechados sem ver o exterior, no escuro, e afastados do mundo real.
Quando finalmente chegámos à loja, fomos expostos e, quando nos vimos novamente, apercebemo-nos que estávamos completamente apaixonados um pelo outro. O Godofredo é simplesmente lindo e é aquele violino que faz sentir-me o melhor arco do mundo, tínhamos de ser tocados o mais rápido possível.
Foram meses de desespero, de lágrimas choradas a palavras maravilhosas ditas um ao outro; quando, finalmente, fomos adquiridos.
Chegámos a casa e foi-me aplicada a melhor resina, deixou-me as crinas tão suaves como nunca. Seguiu-se um momento único: uma melodia perfeita, transmitimos sensações fascinantes; nunca iremos esquecer esta primeira melodia, designada “Titanic”.
A partir desse dia, fomos utilizados regularmente. São muitas as aventuras que vamos somando. Junto continuamos a emitir emoções muito especiais, o nosso amor é único, verdadeiro e vence as maiores barreiras.
Beatriz Neves

Finalmente chegou o meu dia, serei a bola principal do jogo da final da UEFA Champions League. Já faltam poucas horas para ser utilizada pelos melhores jogadores do mundo, como, por exemplo, o Cristiano Ronaldo; estou muito ansiosa.
Chegou a hora, já estou nas mãos do árbitro pronta para iniciar o jogo.
Chegámos ao intervalo e já fui pontapeada por muitos dos melhores craques da atualidade, estou muito contente e orgulhosa e, apesar de já ter passado a primeira parte, estou um pouco ansiosa, pois o jogo ainda não terminou.
Estou novamente nas mãos do árbitro, pronta para iniciar a segunda parte do jogo. Acabou a partida, foi o melhor momento da minha vida, pois realizei o sonho de ser pontapeada por muitos dos melhores jogadores do mundo, e fui a bola principal; espero voltar a ter outras oportunidades como esta.
Gonçalo Pereira

Olá! O meu nome é Godofredo e sou um violino. Fui criado com a melhor madeira e as melhores cordas. Afinado ou não, liberto um som fabuloso, como não há igual.
Quando soube que iam comprar-me e finalmente sair daquela parede, fiquei super feliz, porque soube que iam usar-me bem. Porém, ouve uma parte em mim que ficou com medo, porque poderia não ser levado com o meu arco amado, a Godofreda.
Ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto, era feita de carbono e tinha as melhores crinas de cavalo. Quando passava pelas minhas cordas, era um momento único, o som entoava maravilho, uma coisa nunca antes ouvida. Ela era a cereja no topo do meu bolo.
Oh Meu Deus! O medo tornou-se realidade, separam-me da minha amada. Juntaram-me com o arco mais convencido da loja, a Estrôncia. Ela acha que o seu som é bom, mas é horrível, não há coisa igual, nem com a resina melhora. E não há nada que eu possa fazer, a não ser tocar.
O nosso humano bem tentava, mas nada conseguia mudar aquela sonoridade. Passaram-se meses e meses, e eu já estava cansado de gastar as cordas com aquele mero pedaço de madeira.
O meu humano começou a ver que eu estava a perder o vigor e decidiu ir em busca de outro arco. Fiquei muito curioso para saber que arco iria agora tocar nas minhas cordas, pois poderia ser qualquer arco, porém, eu tinha a esperança de que fosse a minha Godofreda. Passadas algumas horas, o humano chegou e era ela, a minha linda e perfeita Godofreda, que tanto eu amava! A primeira música que tocamos juntos foi “Titanic”, a melhor música para dois apaixonados.
Hoje em dia, tocamos os dois juntos, apaixonados como da primeira vez em que trocámos olhares.
Inês Silva
(Frases criativas / colagens de Beatriz Neves e Jéssica Vendeiro, por esta ordem)

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