terça-feira, 8 de maio de 2018

RECLUSO, ALUNO DO EPG, ESCREVE SOBRE 25 DE ABRIL



25 de abril de 1974 – A Revolução dos Cravos
       O Movimento das Forças Armadas (MFA), coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
     Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viagem histórica da sociedade portuguesa. O regime de ditadura salazarista que vigorava já há 48 anos chegara ao fim. A revolução de 25 de abril inaugurava um novo regime. De imediato, foi tomado um conjunto de medidas que significaram a democratização da sociedade portuguesa.
      A revolução restituiu aos portugueses os direitos e liberdades fundamentais e, finalmente, no dia 25 de abril de 1975, têm lugar as primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte.
Os presos políticos
     Em Portugal, no período da Ditadura Nacional (1926 - 1933) e do Estado Novo (1933 - 1974) foram encarcerados sem julgamento ou após julgamento em tribunais especiais, milhares de portugueses por marcarem a sua oposição à ditadura portuguesa através de cartazes, panfletos, textos informativos, música ou simplesmente porque eram denunciados por falarem contra o regime, fosse verdade ou não.
     Alguns destes indivíduos viviam na clandestinidade, iludindo os seus opressores de variadas formas, fazendo-se passar por um casal, por exemplo, ainda que não o fossem, a fim de poderem alcançar os seus objetivos.
        A censura
      A censura foi a forma que Salazar arranjou para filtrar tudo aquilo que pudesse denegrir o poder. Existia o lápis azul (símbolo da censura) que era utilizado pelos censores do Estado Novo para riscar toda a informação a publicar na imprensa que pusesse em causa o regime. Só era noticiado ou divulgado o que os censores decidissem. A repressão e a censura também chegaram à música e ao teatro.
      Só existiam dois canais de televisão, que pertenciam ao Estado, e tudo o que era transmitido tinha que ser coordenado e controlado pelo regime de Salazar.
      O regime tinha um orçamento muito limitado. A maioria dos portugueses não tinha possibilidades de pôr os filhos a estudar, mas isso era exatamente o que interessava ao regime, que privilegiava o analfabetismo. Desta maneira, poucos seriam aqueles que poderiam contestar a ditadura vigente. Somente as famílias mais abastadas ou as que tinham alguma conivência com o poder podiam aceder a uma carreira universitária ou pôr os seus descendentes a estudar.
      A nível familiar, dentro do casal, o chefe de família era geralmente o homem e cabia a este a responsabilidade de ter um trabalho e assim poder governar a família. Quase todas as casas eram obrigadas a ter um galinheiro devido à política que na época existia, uma política de autocracia que consistia na produção do autosustento. Tudo o que era produzido em Portugal era, em primeiro lugar, para o consumo dos portugueses e poucas coisas eram importadas, somente o necessário. Na época, foi feito um grande investimento na cultura do vinho e nas grandes searas alentejanas, ou não fôssemos nós um dos grandes produtores de vinho do mundo, sendo o Alentejo conhecido como o celeiro de Portugal.
      Por exemplo, nesta altura não havia isqueiros, mas sim fósforos, porque eram produzidos em Portugal.
      Sobre a justiça não fiz qualquer estudo, mas lembro-me de se falar que quem cometesse um crime, independentemente do grau de gravidade, era julgado por um corregedor existente em cada comarca da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). Sobre esta polícia política, vou relatar um episódio que me foi contado por alguém que o testemunhou.
      
      Testemunho:
      Eram os anos 60 e estávamos na estação de caminhos de ferro de Vilar Formoso. Era uma altura de muita emigração, pois a população em geral queria fugir à miséria e os jovens rapazes queriam fugir ao serviço militar que os enviava para as então colónias portuguesas. No fundo, todos estavam dispostos a arriscar a vida para conseguirem uma vida melhor.
      Na estação de Vilar Formoso, paredes meias com a sede da PIDE, o comboio tinha de parar quase uma hora para que se trocasse a máquina que puxava as carruagens e para que se fizesse o controlo dos passaportes. Nesse entretanto, a polícia, vestida à civil, percorria o comboio com o intuito de descobrir algo ou alguém suspeito de qualquer coisa, pois a sua função era perseguir, prender e interrogar qualquer indivíduo que fosse visto como inimigo à ditadura salazarista. Instalava-se sempre o medo dentro das carruagens.  
      Num desses dias, um agente da PIDE, do qual sei o nome, mas não o vou mencionar porque ainda é vivo e sou amigo de uma das suas filhas, alcoolizado, depois de ter passado um bom bocado dentro do comboio, saiu de lá com uma rapariga solteira que chorava cheia de medo. Ele, agarrado ao seu braço, dizia “Já vais ver se te deixo passar ou não!”. Entrou com ela  para dentro da PIDE eram umas 23 horas. Na rua, ouvia-se a moça a pedir ajuda e a chorar. Estava a obrigá-la a fazer o que ela não queria, mas só quem esteve no local soube que fora violada. Contudo, ninguém fez nada, porque ninguém podia acusar um PIDE por abuso de autoridade. Depois do 25 de abril, este senhor foi confrontado com a sua atuação e hoje, como sabe que cometeu tais abusos, vive com vergonha e quase não tem vida social.                                                                                                                                             Paulo Rainha, 12º R


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