25 de abril de 1974 – A Revolução dos
Cravos
O
Movimento das Forças Armadas (MFA), coroando a longa resistência do povo
português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime
fascista.
Libertar
Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma
transformação revolucionária e o início de uma viagem histórica da sociedade
portuguesa. O regime de ditadura salazarista que vigorava já há 48 anos chegara
ao fim. A revolução de 25 de abril inaugurava um novo regime. De imediato, foi
tomado um conjunto de medidas que significaram a democratização da sociedade
portuguesa.
A
revolução restituiu aos portugueses os direitos e liberdades fundamentais e, finalmente, no dia 25 de
abril de 1975, têm lugar as primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte.
Os presos políticos
Em Portugal, no
período da Ditadura Nacional (1926 - 1933) e
do Estado
Novo (1933
- 1974) foram encarcerados sem julgamento ou após julgamento em tribunais
especiais, milhares de portugueses por marcarem a sua oposição
à ditadura portuguesa através de cartazes, panfletos, textos informativos, música
ou simplesmente porque eram denunciados por falarem contra o regime, fosse
verdade ou não.
Alguns destes
indivíduos viviam na clandestinidade, iludindo os seus opressores de variadas formas,
fazendo-se passar por um casal, por exemplo, ainda que não o fossem, a fim de
poderem alcançar os seus objetivos.
A censura
A
censura foi a forma que Salazar arranjou para filtrar tudo aquilo que pudesse
denegrir o poder. Existia o lápis azul (símbolo da censura) que era utilizado
pelos censores do Estado Novo para riscar toda a informação a publicar na
imprensa que pusesse em causa o regime. Só era noticiado ou divulgado o que os
censores decidissem. A repressão e a censura também chegaram à música e ao
teatro.
Só
existiam dois canais de televisão, que pertenciam ao Estado, e tudo o que era
transmitido tinha que ser coordenado e controlado pelo regime de Salazar.
O
regime tinha um orçamento muito limitado. A maioria dos portugueses não tinha
possibilidades de pôr os filhos a estudar, mas isso era exatamente o que
interessava ao regime, que privilegiava o analfabetismo. Desta maneira, poucos
seriam aqueles que poderiam contestar a ditadura vigente. Somente as famílias
mais abastadas ou as que tinham alguma conivência com o poder podiam aceder a
uma carreira universitária ou pôr os seus descendentes a estudar.
A
nível familiar, dentro do casal, o chefe de família era geralmente o homem e cabia
a este a responsabilidade de ter um trabalho e assim poder governar a família. Quase
todas as casas eram obrigadas a ter um galinheiro devido à política que na
época existia, uma política de autocracia que consistia na produção do
autosustento. Tudo o que era produzido em Portugal era, em primeiro lugar, para
o consumo dos portugueses e poucas coisas eram importadas, somente o necessário.
Na época, foi feito um grande investimento na cultura do vinho e nas grandes searas
alentejanas, ou não fôssemos nós um dos grandes produtores de vinho do mundo,
sendo o Alentejo conhecido como o celeiro de Portugal.
Por
exemplo, nesta altura não havia isqueiros, mas sim fósforos, porque eram
produzidos em Portugal.
Sobre
a justiça não fiz qualquer estudo, mas lembro-me de se falar que quem
cometesse um crime, independentemente do grau de gravidade, era julgado por um
corregedor existente em cada comarca da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa
do Estado). Sobre esta polícia política, vou relatar um episódio que me foi
contado por alguém que o testemunhou.
Testemunho:
Eram
os anos 60 e estávamos na estação de caminhos de ferro de Vilar Formoso. Era
uma altura de muita emigração, pois a população em geral queria fugir à miséria
e os jovens rapazes queriam fugir ao serviço militar que os enviava para as
então colónias portuguesas. No fundo, todos estavam dispostos a arriscar a vida
para conseguirem uma vida melhor.
Na
estação de Vilar Formoso, paredes meias com a sede da PIDE, o comboio tinha de
parar quase uma hora para que se trocasse a máquina que puxava as carruagens e para
que se fizesse o controlo dos passaportes. Nesse entretanto, a polícia, vestida
à civil, percorria o comboio com o intuito de descobrir algo ou alguém suspeito
de qualquer coisa, pois a sua função era perseguir, prender e interrogar
qualquer indivíduo que fosse visto como inimigo à ditadura salazarista.
Instalava-se sempre o medo dentro das carruagens.
Num
desses dias, um agente da PIDE, do qual sei o nome, mas não o vou mencionar
porque ainda é vivo e sou amigo de uma das suas filhas, alcoolizado, depois de
ter passado um bom bocado dentro do comboio, saiu de lá com uma rapariga
solteira que chorava cheia de medo. Ele, agarrado ao seu braço, dizia “Já vais
ver se te deixo passar ou não!”. Entrou com ela para dentro da PIDE eram umas 23 horas. Na
rua, ouvia-se a moça a pedir ajuda e a chorar. Estava a obrigá-la a fazer o que
ela não queria, mas só quem esteve no local soube que fora violada. Contudo, ninguém
fez nada, porque ninguém podia acusar um PIDE por abuso de autoridade. Depois
do 25 de abril, este senhor foi confrontado com a sua atuação e hoje, como sabe
que cometeu tais abusos, vive com vergonha e quase não tem vida social. Paulo
Rainha, 12º R
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