domingo, 27 de outubro de 2019

31 VEZES SOPHIA (21) Como Sophia conheceu Jorge de Sena



Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no mesmo ano que Jorge de Sena. Conheceu-o num dia em que tinha ido a um ensaio de orquestra no Teatro Nacional de S. Carlos, numa tarde de novembro. Tinha sido Rui Cinatty a convidá-la e, quando foi apresentada a Jorge de Sena, este pediu-lhe que recitasse um poema de Pierre Jean Jouve que ela sabia de cor. Ela recitou:
Mon Dieu qui est absent infiniment
Un des yeux sans regard des mains sans étendue
En des clartés vides et couvertes de printemps
Que l’on n’atteint jamais par naissance ni mort.

De repente, diz ela na entrevista que dá ao JL de 25/6/1991, começou a orquestra a tocar e a música casava bem com o poema, tendo por isso ela guardado uma “impressão mágica” desse momento.
Jorge de Sena visitou-a muitas vezes na sua casa e liam os poemas ou livros um ao outro. Jorge de Sena, dizia ela, sofria muito por não se ver reconhecido como grande escritor. Ele pensava isso mas havia muita gente a admirá-lo. Ela conta depois na entrevista um encontro com Jorge de Sena e Adolfo Casais Monteiro na sua casa, que mostra o drama de não se ser reconhecido.
“E o Casais Monteiro a certa altura disse-me assim: «Sophia, há uma coisa que não lhe perdoo». Eu fiquei um bocado aflita, o que é que terei feito? «É que, Sophia – continuou o Casais – você é um grande poeta e não sabe que é um grande poeta». «Eu sei – respondi – mas não acho importante que os outros saibam». Aí o Sena ficou indignado, indignadíssimo, quase gritou: «É preciso que todos saibam que somos grandes poetas».
O Jorge precisava desse reconhecimento. E isso fê-lo sofrer muito. Tinha um complexo de mal aimé, de indesejado. Mas, ao contrário do que pensa, era uma pessoa muito afetiva."

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