Numa entrevista a José Carlos de
Vasconcelos Sophia de Mello Breyner Andsresen explicou porque é que num dos
seus primeiros poemas ela refere que chegou a desfolhar e comer pétalas de rosa.
O poema é este, de 1947:
As rosas
Quando à noite desfolho e trinco as
rosas
É como se prendesse entre os meus
dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.
in Dia do Mar, 1947
Eis a resposta a José Carlos de
Vasconcelos:
“Sabe, se quer que lhe diga, do que
eu me lembro bem, e para mim o que é importante, é os sítios onde escrevi, as
situações em que escrevi. Há um poema que diz: «Quando à noite desfolho e
trinco as rosas». Isto é absolutamente verdade: eu ia para o jardim da minha
avó colher rosas, a minha avó já tinha morrido e era um jardim semi-abandonado,
colhia camélias no Inverno e rosas na Primavera. Trazia imensas rosas para
casa, havia sempre uma grande jarra cheia delas em frente da janela, no meu
quarto. E depois eu desfolhava e comia as rosas, mastigava-as... No fundo era a
tentativa de captar qualquer coisa a que só posso chamar a alegria do universo,
qualquer coisa que floresce.”.
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