CRÓNICA
Reincido. Esta crónica foi escrita em Vila do Conde. Não que seja tempo de praia, embora um domingo quente de fevereiro, este, (trará “o diabo no ventre”?) convide a um passeio ao longo do paredão que bordeja um mar bem agitado de fortes correntes.
E foram precisamente
correntes que, desta vez, me trouxeram até aqui. Não as marítimas, não... Mas
outras, bem mais interessantes, que decorreram na vizinha cidade da Póvoa de
Varzim e que ontem, sábado, 22 de fevereiro, encerraram já com várias ideias
para o próximo ano. A cerimónia de abertura desta 21ª edição (a escritora Hélia
Correia foi homenageada na revista Correntes
d’Escritas) ocorreu no dia 19 com a entrega dos prémios literários aos
vencedores. O principal foi atribuído ao grande romancista angolano, Pepetela,
com o romance “Sua Excelência de Corpo Presente”. A conferência de abertura foi
proferida pelo conhecidíssimo Arquitecto Álvaro Siza Vieira que dialogou, em
seguida, com José Carlos de Vasconcelos, o grande dinamizador deste importante
evento cultural e literário que trouxe até à Póvoa cerca de uma centena de
autores das mais diversas proveniências, com predomínio de escritores
portugueses, como seria, aliás, previsível.
Ao longo dos cinco dias em
que decorreram, com sessões de manhã, à tarde e ainda algumas à noite, passaram
pelos painéis das 10 mesas que se organizaram, tendo cada uma temas bem
aliciantes: o da 1ª mesa, Já não (se) salva a literatura, o da
mesa 4 – Tenho medo da poesia e o da
mesa 10 – São de(s)ilusão os tempos,
escolhidas, aleatoriamente, para exemplificar. Muitos foram, pois, os autores
que nelas participaram. Cada painel era composto por seis escritores e o respetivo
moderador. Enfim, um mundo de escrita, de escritores, de livros (poesia,
ficção, ensaio, teatro)... Uma plêiade de autores oriundos de vários países,
uns mais jovens, outros nem tanto, trouxeram até nós, os leitores, que
enchíamos completamente os cerca de 500 lugares do Cine-Teatro Garrett,
excelentes intervenções, belíssimos contributos literários que consubstanciam
um inexcedível encontro de mundos e mundivivências.
Gosto de assistir a esses painéis muito ricos
na sua diversidade; aprecio os colóquios com escritores de rica bibliografia,
sempre disponíveis para dois dedos de conversa; satisfaz-me imenso este
convívio múltiplo e diverso que gira, afinal, em torno da palavra, material único com o qual tudo isto se faz, inclusivamente
esta minha despretensiosa crónica.
Em registo diferente, claro,
daquele com que romancistas, poetas, dramaturgos (Onésimo Teotónio de Almeida,
açoriano, professor catedrático da Universidade de Brown, Luís Sepúlveda,
chileno, autor do conhecido O Velho Que
Lia Romances de Amor, Rosa Montero, escritora e jornalista espanhola e de tantos, tantos autores portugueses como
Ana Margarida de Carvalho, Hélia Correia, João Tordo, José Luís Peixoto,
Laborinho Lúcio, etc. etc. etc.) enriqueceram estes dias vividos na Póvoa de
Varzim.
E, assim, com estas memórias
ainda tão presentes, remato este breve apontamento redigido em Vila do Conde,
aos 23 dias do mês de fevereiro de 2020.
António José Dias de Almeida
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