sábado, 29 de fevereiro de 2020

CORRENTES D'ESCRITAS A crónica de António José Dias de Almeida


CRÓNICA
     Reincido. Esta crónica foi escrita em Vila do Conde. Não que seja tempo de praia, embora um domingo quente de fevereiro, este, (trará “o diabo no ventre”?) convide a um passeio ao longo do paredão que bordeja um mar bem agitado de fortes correntes.
E foram precisamente correntes que, desta vez, me trouxeram até aqui. Não as marítimas, não... Mas outras, bem mais interessantes, que decorreram na vizinha cidade da Póvoa de Varzim e que ontem, sábado, 22 de fevereiro, encerraram já com várias ideias para o próximo ano. A cerimónia de abertura desta 21ª edição (a escritora Hélia Correia foi homenageada na revista Correntes d’Escritas) ocorreu no dia 19 com a entrega dos prémios literários aos vencedores. O principal foi atribuído ao grande romancista angolano, Pepetela, com o romance “Sua Excelência de Corpo Presente”. A conferência de abertura foi proferida pelo conhecidíssimo Arquitecto Álvaro Siza Vieira que dialogou, em seguida, com José Carlos de Vasconcelos, o grande dinamizador deste importante evento cultural e literário que trouxe até à Póvoa cerca de uma centena de autores das mais diversas proveniências, com predomínio de escritores portugueses, como seria, aliás, previsível.
Ao longo dos cinco dias em que decorreram, com sessões de manhã, à tarde e ainda algumas à noite, passaram pelos painéis das 10 mesas que se organizaram, tendo cada uma temas bem aliciantes: o da 1ª mesa,  Já não (se) salva a literatura, o da mesa 4 – Tenho medo da poesia e o da mesa 10 – São de(s)ilusão os tempos, escolhidas, aleatoriamente, para exemplificar. Muitos foram, pois, os autores que nelas participaram. Cada painel era composto por seis escritores e o respetivo moderador. Enfim, um mundo de escrita, de escritores, de livros (poesia, ficção, ensaio, teatro)... Uma plêiade de autores oriundos de vários países, uns mais jovens, outros nem tanto, trouxeram até nós, os leitores, que enchíamos completamente os cerca de 500 lugares do Cine-Teatro Garrett, excelentes intervenções, belíssimos contributos literários que consubstanciam um inexcedível encontro de mundos e mundivivências.
Gosto de assistir a esses painéis muito ricos na sua diversidade; aprecio os colóquios com escritores de rica bibliografia, sempre disponíveis para dois dedos de conversa; satisfaz-me imenso este convívio múltiplo e diverso que gira, afinal, em torno da palavra, material único com o qual tudo isto se faz, inclusivamente esta minha despretensiosa crónica.
Em registo diferente, claro, daquele com que romancistas, poetas, dramaturgos (Onésimo Teotónio de Almeida, açoriano, professor catedrático da Universidade de Brown, Luís Sepúlveda, chileno, autor do conhecido O Velho Que Lia Romances de Amor, Rosa Montero, escritora e jornalista espanhola  e de tantos, tantos autores portugueses como Ana Margarida de Carvalho, Hélia Correia, João Tordo, José Luís Peixoto, Laborinho Lúcio, etc. etc. etc.) enriqueceram estes dias vividos na Póvoa de Varzim.
E, assim, com estas memórias ainda tão presentes, remato este breve apontamento redigido em Vila do Conde, aos 23 dias do mês de fevereiro de 2020.
António José Dias de Almeida

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