sábado, 28 de março de 2020

ÂNGELA CANEZ, EX-ALUNA DA ESAAG Ângela Canez venceu o 47º Campeonato de Escrita Criativa


Ângela Canez, ex-aluna da ESAAG, e atualmente a tirar o curso de Teatro na ESMAE (Porto) depois de ter feito Psicologia em Coimbra, acaba de ganhar o Campeonato de Escrita Criativa (edição 47), organizado periodicamente pelo escritor Pedro Chagas Freitas e pela Chiado Editora.
O regulamento do Campeonato, disponível em pedrochagasfreitas.com determina que cada inscrito participe em dez semanas consecutivas num desafio de escrita. Em cada semana Pedro Chagas Freitas vai dando a pontuação de cada trabalho e o vencedor é aquele que tiver mais pontos no total das 10 semanas. O prémio é a possibilidade de o vencedor fazer uma edição gratuita na Chiado Editora.
Ângela Canez tem participado ao longo dos últimos anos de muitas experiências no domínio do teatro e da poesia. Parabéns, Ângela! Continua a escrever! Esperamos pelas tuas edições.
Aqui fica um dos textos da série vencedora:

– É o diabo! – disse o capelão.
Eu neguei tudo.
– Não renuncio!
Na primeira noite, foi o Luís do meu quarto. Acordou aos gritos. Tinha sonhado. Ainda é novo, de fantasias. Viu a montanha do outro lado. Foi só isto, coisa pequena. Paciente zero, um condenado. No dia seguinte, aconteceu comigo. Atravessei os espaços, portadas, fronteiras. Sonhei contigo. Deus estava lá e viu quase tudo.
Quando acordei, a casa ardia. Mais de metade dos homens a sofrer da passagem. Mesmo os ateus, os vacinados. Na toca do lobo, fabricamos milagres. É a ação das borboletas, dos candelabros. O efeito das tuas mãos nos meus olhos vazios.
– O diabo é o sonho – repetiram os guardas.
Mas como é o mal se te sonho em igrejas? Pôs-se em marcha a tortura. Proibição do sono. Mas o corpo depressa contorna a montanha. Já dormíamos de pé, de olhos abertos. Mesmo em ressaca disse o teu nome. Abriram-me o peito. Queriam tirar-te. Nem mil quarentenas. Se soubessem como o amor se sonha quando é impossível. Na solitária? Não renuncio.
No meio da cegueira, partiam-me os ossos. Mas o sonho sangra, é persistente. Bastava uma noite, o amor voltaria. É realista? Não. É o efeito do fogo sobre o meu desespero. Até que rebente, destruam-me todo. Uma multidão a passar pelas brasas. É inevitável. Que aconteça. Sonhámos, sonharam e um sonho um dia rasga fronteiras. Um fogo que alastra. De fio a pavio. Sonhámos, sonharam. Unção extrema. Cada um deles:
– Não renuncio!
Quando romperam as grades da Prisão, deitei-me junto à porta e sonhei-Te. Pela primeira vez, estive contigo um dia inteiro:
dois, três… Ainda não saí do teu lado.
Sonho eterno.
Que ninguém me acorde.
Agora sou livre. E ao Amor…
EU NÃO RENUNCIO. 

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