segunda-feira, 1 de junho de 2020

PEREGRINANDO (2) Marta Barata reinventa o I capítulo da Peregrinação

O início da PEREGRINAÇÃO, de Fernão Mendes Pinto, é um texto que prepara o leitor para uma narrativa cheia de peripécias. O desafio aos alunos de Literatura Portuguesa era recriarem o motivo que levou Fernão Mendes Pinto a fugir da casa de uma dama nobre onde servia (capítulo I da Peregrinação). A Marta Barata, do 10º D, imagina a sequência da narrativa.


Esta história passa-se na cidade de Lisboa, no ano de 1523, se bem me recordo nos inícios do mês de junho. Lembro-me perfeitamente daquela noite. Estava bastante quente para a época em que nos encontrávamos. A lua cheia iluminava as ruas da cidade, e o cheiro a jasmim era intenso.
Por volta das oito menos um quarto estava eu a dirigir-me para uma das casas mais importantes da minha zona para uma espécie de reunião casual que costumávamos fazer no primeiro domingo de cada mês.
Nesse domingo a anfitriã era Beatriz, uma mulher que se mostrava muito fogosa.
Quando cheguei já todos se encontravam na sua sala de jantar. Quem me recebeu à porta foi o seu servo Fernão Mendes Pinto, cujo nome só vim a saber anos mais tarde.
Depois de cumprimentar todos os presentes, dirigi-me ao único lugar que me restava, mesmo junto à porta de passagem entre a sala e a cozinha.
Por volta das oito e vinte seis, os criados começaram a trazer o jantar e, como era costume naquela casa, estava divinal.
Depois de uma agradável refeição e uns copos a mais era tempo de metermos os segredos e mexericos em dia!
Perguntei em privado a Beatriz como ela se estava a sentir em relação ao desaparecimento do marido. Não demonstrou qualquer sentimento de tristeza. Estranhei, pois o desaparecimento fora há pouco mais de um mês. Nem parecia a minha Beatriz. Aquela mulher que chorava por perder uma das suas jóias não derramara uma única lágrima quando lhe falei do desaparecimento do seu marido? Beatriz parecia estar um pouco desconfortável, por isso não quis tocar mais no assunto.
Era por volta das dez da noite e eu, que estava sentada na cadeira mais próxima da cozinha, vi Fernão Mendes Pinto, o criado de Beatriz, às voltas na outra divisão. O pobre do rapaz parecia aterrorizado. Obviamente não fazia parte do meu quotidiano falar com os criados das casas dos meus amigos, mas aquele caso pareceu-me um tanto peculiar. Retirei-me da sala dizendo que ia apanhar um pouco de ar lá fora. Virei no sentido contrário ao do pátio e foi direta para a cozinha. Chamei o criado e perguntei-lhe o que se passara para ele estar naquele estado lastimável. O pobre do rapaz nem uma frase conseguia dizer sem dar um soluço de aflição entre as palavras. Pedi-lhe para se acalmar e me contar o que tinha acontecido.
Sem qualquer tipo de delicadeza, pegou-me no braço e levou-me de arrasto para o jardim. Eu sem entender nada do que se passava, e já um pouco exaltada, perguntei-lhe o que é que estava a tentar fazer. Nesse preciso momento o jovem aponta para o chão e eu deparo-me com uma das coisas mais macabras que vi até aos dias de hoje. Vi um corpo. Um corpo que aparentava ser de Miguel, o falecido marido de Beatriz. Não vou especificar o que vi, mas não era, de todo, uma coisa agradável. O pobre do criado perguntou-me o que fazer em relação àquela situação. Eu estava completamente aterrorizada com aquilo e, por isso, apenas lhe disse para correr. Para correr o máximo que conseguisse e para nunca mais regressar àquela casa.
E foi isso que Fernão Mendes Pinto fez, fugiu a sete pés daquela casa como se não houvesse amanhã.
A parte que se segue, já a pode contar ele: “me vi forçado a sair naquela mesma hora da casa, fugindo com a maior pressa que pude. E indo eu assim tão desatinado com o grande medo que levava...”
Marta Barata nº 17 10° D

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