O
engenheiro Mário da Cruz Gonçalves, ex-aluno do Liceu Nacional da Guarda (LNG), esteve há anos atrás à frente da Direção de Serviços de Recursos Materiais de
Coimbra da DREC. Agora aposentado, tem-se dedicado à animação de atividades
ligadas à tradição académica da Guarda do século passado. É da sua
responsabilidade, juntamente com outros ex-alunos do LNG, a construção de uma réplica da Bandeira da Associação
Académica da Guarda (AAG) e a sua colocação a partir deste mês no Espaço Conhecimento
e Memória da ESAAG. A nova localização da Bandeira será assinalada a 16 de
dezembro próximo, aquando do lançamento do livro “Esc. Sec. Afonso de
Albuquerque – 50 anos na Mata Municipal”. Mário da Cruz Gonçalves respondeu às
perguntas do Blogue EXPRESSÃO.
Expressão: Que Bandeira é esta?
MG: Trata-se da reprodução fiel da Bandeira da Associação
Académica da Guarda, cuja origem se perde no tempo. Nela figuram as letras AAG,
bem como os alçados principais da Sé Catedral e da Torre de Menagem da Cidade,
bordados a preto, sobre fundo branco.
A atual Bandeira apenas difere da original no que se refere
aos materiais, sendo que a antiga era suportada por um pau em madeira, enquanto
que a atual é suportada por uma haste metálica de inox, terminando em lança.
MG: A Bandeira era utilizada sempre no Primeiro de Dezembro,
nas Festas Académicas, em determinadas Cerimónias Públicas, ou quando uma alta Individualidade
visitava a Cidade, como sucedeu na visita do Ministro do Interior Santos Júnior
à Guarda.
Também era utilizada quando a AAC, a nossa congénere de
Coimbra, nos visitava, em são convívio, designadamente, com troca de opiniões
entre os Dux e os Veteranos sobre questões comuns, como o Código da Praxe,
Decretos e outros assuntos de cariz académico.
MG: A Bandeira antiga desapareceu após o 25 de ABRIL. Sumiu.
Perdeu-se... Como a AAG nunca teve uma Sede própria, a Bandeira era geralmente
guardada na Casa do Dux Veteranorum, ou de um Veterano. Nos últimos anos, foi
guardada no reservado da mercearia do Zé da Angelina que se situava na Rua
Francisco de Passos, mais conhecida por rua Direita.
É de assinalar que o Zé da Angelina nos fornecia,
gratuitamente, garrafões de vinho, quer durante o ano letivo, quer no período
das Festas do mês de Dezembro e por vezes algumas garrafas de jeropiga de grande
qualidade, algumas delas surripiadas. Estas bebidas ajudavam no Convívio a alegrar
a malta, durante a tradicional Ceia de Homenagem ao Caloiro, bem como durante o
célebre Cortejo, entre muitas outras ocasiões de camaradagem e convívio.
MG: O processo foi relativamente célere a partir do momento
em que o Ex-Dux Veteranorum, Luís Mário Santos Cunha, atualmente a residir no
Barreiro, teve, em boa hora, a bela iniciativa de me desafiar para reproduzir a
Bandeira da AAG e assim se poder dar execução a este projeto.
Para este efeito, foi elaborado um fiel logotipo da Bandeira
original, que foi mandado executar na cidade de Braga, através da Casa Véritas
da Guarda, tendo eu acompanhado o seu desenvolvimento.
Quanto à base para apoio da Bandeira, eu próprio elaborei o
seu projeto, em Autocad, definindo as suas dimensões em planta e altura, com
pormenores dos alçados e de um corte, tendo sido materializado por um artesão
que possui uma carpintaria artesanal em Trancoso. Inicialmente, previa-se que a
base fosse construída em madeira de mogno, mas não se conseguiu uma peça única
com as dimensões projetadas, pelo que se optou por utilizar madeira de
casquinha prensada. As dimensões foram calculadas para um determinado momento
de derrube.
MG: Foi importante a iniciativa de a recriar, dado que
representa um passado de Convívio salutar, de Camaradagem, de Associativismo,
de Festa, de Alegria na Cidade e de uma União fraterna entre as Gerações ainda
vivas do século passado, designadamente dos anos 40, 50, 60 e parte da década
de 70, até ABRIL de 1974.
A Bandeira da AAG é sinónimo de Recordação, Lembrança e
Memórias salutares do Primeiro de Dezembro, do Cortejo, da Ceia, do Batismo dos
Caloiros no Chafariz de Santo André, do Baile de Finalistas, da Serenata
Monumental, da Feira de São Francisco, do Magusto atrás do Castelo, do Jogo
anual de Futebol entre as equipas do nosso Liceu e o Colégio Rocha/ São José e da
Imposição das Fitas nas colheres.
As fitas eram oferecidas pelas raparigas e em seguida colocadas
nas colheres e /ou nas mocas de madeira. A propósito, relevo que as fitas eram
pintadas, com dedicatórias a condizer com o sentimento das ofertantes, no que à
cor da fita diz respeito. Assim, discrimino o significado da cor das fitas:
AMARELO=DESESPERO
COR DE ROSA=AMOR
PRETO=ÓDIO
BRANCO=AMIZADE
ROXO=PAIXÃO
VERDE= ESPERANÇA
MG: No dia 18 de Maio de 1907, um grupo de Estudantes da
Real Academia da AAG esteve presente na Inauguração do Sanatório Sousa
Martins.
Aproveitando a presença da Rainha D. Amélia que acompanhava
o seu marido, o Rei D. Carlos, na referida Inauguração, os Estudantes aí
presentes estenderam as suas capas no chão para a Rainha passar sobre elas. Sua
Majestade questionou, ao ver as capas à sua frente: “Posso pisar? Posso pisar?”
Ao que os Estudantes responderam: “Sim!!! Sim!!!...”.
Foi brindada com um forte FRA, brandindo os Estudantes as
suas fitas e o respetivo Estandarte do Liceu Nacional da Guarda, onde a Rainha
decidiu apor uma fita régia, com a sua própria assinatura real.
MG:
A AAG continua viva no espírito dos Antigos Estudantes que a acarinharam e que
partilharam alegrias e tristezas, durante o seu percurso académico, na cidade
da Guarda, desde que a Real Academia da Guarda foi criada em 1856, por Foral
Real, até aos nossos dias. Nunca teve uma sede própria, que se tenha
conhecimento, nem nunca foi oficialmente registada como tal.
Não se pode falar em renascimento, porque a AAG nunca morreu, muito menos será olvidada agora, com a colocação do seu símbolo na prestigiada Escola Secundária Afonso de Albuquerque.
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