sexta-feira, 5 de março de 2021

PRÉMIO EXPRESSÃO VOX POPULI 2020/21 O texto vencedor, do Hugo Pissarra


      Publicamos a partir de hoje, um por dia, os textos vencedores do Prémio EXPRESSÃO Vox Populi 2020/21. Começamos hoje pelo texto do vencedor, Hugo Pissarra, do 11º D, que escolheu o Tema A. Parabéns.

TEMA A

Diante de tanta informação e entretenimento que hoje estão disponíveis, por exemplo a partir do Google, da TV e das redes sociais, quase ninguém tem vontade de aprofundar um tema e poucos leem um livro de mais de poucas dezenas de páginas. Estaremos à beira de um mundo de alfabetizados mas incultos? Numa crónica / texto de opinião de 300 a 400 palavras, destinada a um jornal local, mostra-nos como é que os olhos de um(a) jovem como tu veem este tema e a sua relação com a educação e as atividades culturais.

 No nosso quotidiano, sobretudo daqueles que estudam, facilmente se constata o quão enfadonha é a leitura e o quão unânime essa opinião é. Outrora símbolo de cultura e inteligência, ler é hoje apenas um verbo que se usa quando queremos referir pejorativamente aquele que resiste e vai saboreando umas páginas, aqui e ali, inconscientemente representando um bastião, cada vez mais abalado pela tendência exponencial da sociedade, rapidamente sumarizada na expressão “Para quê ler isso? Está tudo na Net!”.

Nunca antes o homem teve a oportunidade de visualizar, contactar e obter informação, tudo estando ao seu alcance. Todavia, essa abundância parece produzir um efeito quase paradoxal, pois lê-se hoje menos do que há vinte ou trinta anos. No passado, havia vontade, mas falta de possibilidades; hodiernamente, vemos exatamente o reverso da moeda: pouca vontade, apesar de uma enormíssima variedade de opções.

Na mesma linha de pensamento, convém dizer que para esta virtude verificamos como válida a lei da conservação, pois esta vontade toda não se extinguiu, apenas se escapuliu para o que é hoje o centro da mundividência dos jovens, ou pelo menos da maioria, as redes sociais.

Estas apareceram somente no início deste século e são porventura, nas suas curtas duas décadas de vida, o maior veículo de opinião que já existiu. Apesar de promissora, essa tarefa arrastou, descontroladamente, e impulsionou opiniões ficcionadas, cuja réplica simplesmente não existe, pois  a maioria já não lê, não vê com os seus olhos aquilo que é verdade ou não e cegamente acredita no que se diz pelas redes.

Até prova em contrário, esta crescente prática já não está confinada a esses espaços e infetou todo o nosso mundo, desde a política à economia e às opiniões. Mais a mais, com a globalização a intensificar esse processo, aquilo que se diz nos Estados Unidos também é válido para o resto do globo. Perdeu-se assim a individualidade cultural dos povos, o que ataca diariamente e fragiliza a democracia e os seus mecanismos. Temos uma nacionalidade no cartão de cidadão, mas para o Google isso é irrelevante. Por isso, discursos fraturantes, populistas e altamente prejudiciais têm prevalecido.

Em suma, a História tem-nos mostrado que, no fim, os valores do bem, da igualdade, do respeito, acabam inequivocamente por sobressair. Não obstante, esta ética republicana vem fraquejando e poderá mesmo perigar, pois um povo inculto é a melhor arma de um tirano.

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