A autora |
O livro |
Maria Afonso lança este sábado, 4 de dezembro, às 16 horas, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, o seu novo livro de poesia, "Corpo Irrepetível". Maria Afonso, ex-aluna e atual professora da ESAAG, autora de "todos os silêncios" e ("eu diria que nevava)", aceitou falar sobre esta edição.
Explique lá o título deste novo livro, "Corpo Irrepetível".
Eu não tenho por hábito
atribuir títulos aos meus textos. Considero que é limitar um conjunto de
palavras – o poema – a uma ou duas, e que o próprio título pode, desde o
início, ser tendencioso e condicionar o leitor.
O título deste livro partiu de
uma proposta de Jorge Velhote, diretor da coleção “Ofício e
Peregrinação”, da qual o livro faz parte. Foi ele que, depois de ler o livro,
apresentou este título. Eu, interiorizei-o, desde logo.
Creio que compete ao leitor,
à medida que for lendo os textos, perceber se o livro cabe neste título ou não.
Ou ainda, antes de abrir as páginas, poder sentir aquele formigueiro de iniciar
a leitura de um livro novo e descobrir, aos poucos, se o título vai de encontro
às primeiras impressões. Há quem compre livros pelo título ou pela capa. A mim já
me aconteceu e já tive belíssimas surpresas que não me dececionaram.
Na poesia o título pode ser
tão só uma metáfora que cabe ao leitor deslindar. Ou não.
Na escrita, como noutras
artes, há sempre muito do autor. É difícil, por vezes, dizer-se que existe uma
descontinuidade. Claro que ao longo da História houve ruturas, mas, ainda assim,
essas ruturas foram buscar algo de ancestral que já pertencera e fora utilizado
pelo Homem. Apenas se lhe dá outra roupagem. Isto para dizer que, na minha
escrita, há sempre algo de continuidade. Os textos podem ser mais ou menos
extensos mas, inconscientemente ou conscientemente, há certas palavras que me
estão coladas na pele e que emergem porque assim o desejam. Diria que, no seu
conjunto, “Corpo Irrepetível”, apesar dessa continuidade, chamemos-lhe assim,
traz novidades. Está dividido em duas partes, cada uma com estruturas
distintas. No entanto, considero que as duas partes se complementam.
Talvez eu não seja a pessoa
indicada para definir a minha poesia. Ninguém é bom juiz em causa própria.
Tento escrever com concisão e de forma depurada. Gosto, especialmente, de
reduzir ao máximo o número de palavras para expressar uma ideia. O poeta
Fernando Cabrita talvez seja quem se referiu à minha poesia da forma como a
sinto e como nela me revejo, quando diz que na minha poesia a contenção serve a ideia, a imagem e a linguagem e que
exercito o rigor da frase contida.
Creio que desde a edição do meu primeiro livro tenho
amadurecido a minha escrita. Sinto cada vez mais uma maior responsabilidade por
aquilo que escrevo e sofro para dar o melhor de mim, para que o poema/texto venha
a ser o mais perfeito possível. Nestes últimos tempos o meu convívio com poetas
maiores, quer pessoalmente quer através da leitura, tem-me aberto horizontes e
tem sido uma grande escola.
A vontade de dizer as coisas,
os lugares, a existência com tudo o que ela traz acoplado. Um poeta é um
artífice e como tal é livre de manipular a palavra. É essa liberdade que, em
parte, me motiva a escrever. Poder moldar a palavra, atribuir-lhe outro
significado, virá-la ao contrário, dizer verdades ou fingir dizê-las refugiadas
em metáforas, hipérboles ou paradoxos.
Edgar Morin fala sobre “o
problema da poesia da vida” que, segundo ele, é polarizada entre o que fazemos
por obrigação e a poesia. Para ele é a poesia que
nos faz florescer, amar, comunicar. Se tivermos momentos na vida em que
consigamos viver poeticamente, esses serão momentos de felicidade. Em parte,
concordo com ele e, por isso, a poesia não fica apenas nos livros. A poesia
está em todo o lado, rodeia-me, no que vejo e na forma como vejo, no que penso
e na forma como penso. Na minha cabeça está quase sempre a acontecer poesia.
Mas tal não significa que viva em constante felicidade. A poesia também faz
doer e ainda bem. Toda esta poesia cabe nos livros.
A sessão vai contar com o
editor Luiz Pires dos Reys, com o diretor da coleção “Ofício e Peregrinação”, Jorge
Velhote, que apresentará o livro. Haverá leitura de poemas e um apontamento
musical. Mas, o melhor é comparecerem mesmo. Gostaria muito de contar com a
presença de alunos e colegas, e de familiares e amigos. E de obter a sua
opinião.
Parabéns pelo novo livro e por essa entrevista maravilhosa.
ResponderEliminarSaudações de Yolanda Duque Vidal