domingo, 28 de novembro de 2021

ENTREVISTA Maria Afonso fala do lançamento do seu novo livro de poesia no dia 4

A autora
 

O livro

Maria Afonso lança este sábado, 4 de dezembro, às 16 horas, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, o seu novo livro de poesia, "Corpo Irrepetível". Maria Afonso, ex-aluna e atual professora da ESAAG, autora de "todos os silêncios" e ("eu diria que nevava)", aceitou falar sobre esta edição.

Explique lá o título deste novo livro, "Corpo Irrepetível".

Eu não tenho por hábito atribuir títulos aos meus textos. Considero que é limitar um conjunto de palavras – o poema – a uma ou duas, e que o próprio título pode, desde o início, ser tendencioso e condicionar o leitor.

O título deste livro partiu de uma proposta de Jorge Velhote, diretor da coleção “Ofício e Peregrinação”, da qual o livro faz parte. Foi ele que, depois de ler o livro, apresentou este título. Eu, interiorizei-o, desde logo.

Creio que compete ao leitor, à medida que for lendo os textos, perceber se o livro cabe neste título ou não. Ou ainda, antes de abrir as páginas, poder sentir aquele formigueiro de iniciar a leitura de um livro novo e descobrir, aos poucos, se o título vai de encontro às primeiras impressões. Há quem compre livros pelo título ou pela capa. A mim já me aconteceu e já tive belíssimas surpresas que não me dececionaram.

Na poesia o título pode ser tão só uma metáfora que cabe ao leitor deslindar. Ou não.

 Este livro é mais continuidade ou mais surpresa e procura do novo?

Na escrita, como noutras artes, há sempre muito do autor. É difícil, por vezes, dizer-se que existe uma descontinuidade. Claro que ao longo da História houve ruturas, mas, ainda assim, essas ruturas foram buscar algo de ancestral que já pertencera e fora utilizado pelo Homem. Apenas se lhe dá outra roupagem. Isto para dizer que, na minha escrita, há sempre algo de continuidade. Os textos podem ser mais ou menos extensos mas, inconscientemente ou conscientemente, há certas palavras que me estão coladas na pele e que emergem porque assim o desejam. Diria que, no seu conjunto, “Corpo Irrepetível”, apesar dessa continuidade, chamemos-lhe assim, traz novidades. Está dividido em duas partes, cada uma com estruturas distintas. No entanto, considero que as duas partes se complementam.

 Como definiria a sua poesia?

Talvez eu não seja a pessoa indicada para definir a minha poesia. Ninguém é bom juiz em causa própria. Tento escrever com concisão e de forma depurada. Gosto, especialmente, de reduzir ao máximo o número de palavras para expressar uma ideia. O poeta Fernando Cabrita talvez seja quem se referiu à minha poesia da forma como a sinto e como nela me revejo, quando diz que na minha poesia a contenção serve a ideia, a ima­gem e a linguagem e que exercito o rigor da frase contida.

Creio que desde a edição do meu primeiro livro tenho amadurecido a minha escrita. Sinto cada vez mais uma maior responsabilidade por aquilo que escrevo e sofro para dar o melhor de mim, para que o poema/texto venha a ser o mais perfeito possível. Nestes últimos tempos o meu convívio com poetas maiores, quer pessoalmente quer através da leitura, tem-me aberto horizontes e tem sido uma grande escola.

 O que motiva um poeta a escrever?

A vontade de dizer as coisas, os lugares, a existência com tudo o que ela traz acoplado. Um poeta é um artífice e como tal é livre de manipular a palavra. É essa liberdade que, em parte, me motiva a escrever. Poder moldar a palavra, atribuir-lhe outro significado, virá-la ao contrário, dizer verdades ou fingir dizê-las refugiadas em metáforas, hipérboles ou paradoxos.

 É poeta também na vida ou a poesia fica nos livros?

Edgar Morin fala sobre “o problema da poesia da vida” que, segundo ele, é polarizada entre o que fazemos por obrigação e a poesia. Para ele é a poesia que nos faz florescer, amar, comunicar. Se tivermos momentos na vida em que consigamos viver poeticamente, esses serão momentos de felicidade. Em parte, concordo com ele e, por isso, a poesia não fica apenas nos livros. A poesia está em todo o lado, rodeia-me, no que vejo e na forma como vejo, no que penso e na forma como penso. Na minha cabeça está quase sempre a acontecer poesia. Mas tal não significa que viva em constante felicidade. A poesia também faz doer e ainda bem. Toda esta poesia cabe nos livros.

 Como vai ser a sessão do dia 4? Quem participa e de que maneira?

A sessão vai contar com o editor Luiz Pires dos Reys, com o diretor da coleção “Ofício e Peregrinação”, Jorge Velhote, que apresentará o livro. Haverá leitura de poemas e um apontamento musical. Mas, o melhor é comparecerem mesmo. Gostaria muito de contar com a presença de alunos e colegas, e de familiares e amigos. E de obter a sua opinião.

1 comentários :

  1. Parabéns pelo novo livro e por essa entrevista maravilhosa.
    Saudações de Yolanda Duque Vidal

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