quinta-feira, 8 de junho de 2023

CLUBE DE ORALIDADE "PENSAR ALTO" O balanço de 2022/23 feito por Alexandre Gonçalves


          O Clube de Oralidade “Pensar Alto” é fruto do protocolo de colaboração entre a Município da Guarda e o Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, nomeadamente entre a Divisão de Educação, Intervenção Social e Juventude, e o Grupo de Filosofia da Escola Secundária Afonso de Albuquerque.

      É essencial presenciar a sensibilidade não só por parte do Executivo da Câmara Municipal, como também por parte dos professores para abraçar este projeto, assim como para perceber a relevância do mesmo junto dos alunos.

        O Clube de Oralidade “Pensar Alto” decorreu entre os meses de novembro de 2022 e maio de 2023, com alunos de várias turmas do 10ª e 11ª ano. Os temas debatidos em sala de aula foram: “redes sociais” e “saídas à noite”.

      De salientar o compromisso e a disponibilidade, por parte dos professores de Filosofia, para que o projeto tenha continuidade e já perdure há vários anos. Neste sentido, agradeço aos professores, que juntamente comigo dinamizaram este projeto de continuidade, António Madeira, Luísa Fernandes, Albertino Vaz, Aureliano Valente e Lurdes Alves.

      As salas de aula, tal como se ambicionava, continuaram a ser autênticos espaços de debate e de discussão. As capacidades discursivas e argumentativas, no campo da oralidade, foram, uma vez mais, impulsionadas.

       Não tivemos egos inflamados, nem tão pouco perniciosas verdades absolutas. Ninguém adormentou os passos da liberdade de expressão. Os alunos foram os protagonistas e, tal como tinha sucedido nos anos anteriores, demonstraram ter opiniões incisivas sobre os temas propostos, fazendo amiudadamente observações perspicazes. Infelizmente há muitos “atores de charcutaria” na sociedade, os jovens não fazem seguramente parte dessa “parcela”.

       Proferir livremente aquilo que pensamos é comerciar os sinais da nossa própria existência. O debate livre e a livre circulação de ideias constituem configurações extremamente importantes na labiríntica sociedade moderna.

       Este ano letivo, o Clube de Oralidade “Pensar Alto” terminou com a atividade “Livres na Prisão”, no Estabelecimento Prisional da Guarda. Inicialmente, e juntamente com a professora Luísa Fernandes, reforcei a importância da poesia nos caminhos da literacia, da inclusão e do pensamento crítico. De seguida, distribuí, de forma aleatória e sem conhecer os reclusos, vários poemas de autores consagrados, poemas esses que já tinham sido declamados por mim no programa “Reflexo Imperfeito” da Rádio Altitude. No final da sessão, e após a leitura dos poemas, os participantes escreveram o poema coletivo “Liberdade”. Foi uma manhã memorável, na qual desfilaram sorrisos francos, assim como vozes de confiança, inclusão, emoção, esperança, alegria, imaginação, imensidão e liberdade. Os participantes foram excecionais, para além da amabilidade com que nos receberam, mostraram compromisso com a atividade “Livres na Prisão”. Também salientei que todas as pessoas têm talento e capacidade para criar, que todos devemos ter mais do que uma oportunidade e que o hiato que existe entre estar deste lado ou estar institucionalizado é muito ténue. A poesia, mais uma vez, transformou a sombra em luz, e provocou calafrios quentes e gestos honestos.

       O Clube de Oralidade “Pensar Alto” vai continuar no próximo ano letivo! Deixo-vos o poema coletivo “Liberdade”!

 

Liberdade

Apanhas-me desprevenido

Soltem as raízes desta flor

Porque fugiste de mim

Sei lá

Deus acima de tudo

Não me ocorre nada

Porque te perdi

Tenho a minha família à espera

O sol que anda alto

Liberdade

Oh, liberdade, liberta-me destas grades

A nossa mente

Por ti desespero, anseio e me amarguro

Dizem que “gato escaldado de água fria tem medo”

Todos os encarcerados sabem a razão deste segredo

Como é triste a solidão

Tirem-me daqui

Não me sai nada agora

Não consigo pensar

Só penso em não estar aqui

Liberdade que me foi privada assim do nada

Acabei detido no Estabelecimento Prisional da Guarda

Saudades, tantas saudades da família

Não me ocorre nada

O que fui fazer à minha vida

Só nós sabemos o que sofremos

O luar que aparece sozinho à noite que nos traga a liberdade

Vidas destruídas

Tão perto e tão longe

Os meus filhos por mim esperam

Deus não me abandonou

Só me colocou à prova

Dentro desta prisão só a ele lhe peço perdão

Tinha tudo e tudo perdi

Só Deus sabe o que sofro aqui

Meu Deus dá-me a liberdade, pois já ontem era tarde

Libertai-me desta angústia.

 Reclusos do Estabelecimento Prisional da Guarda

 Alexandre Gonçalves (Div. Educação TMG)

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