“Mil
poetas invadem Lisboa”, foi assim que a Agenda Cultural de Lisboa anunciou
o evento em que, já pela sétima vez, a Avenida da Liberdade iria acolher no
Teatro Tivoli BBVA em 23 de outubro de 2016 o lançamento da anual Antologia
de Poesia Contemporânea (Entre o Sono e o Sonho) da Chiado Editora. Tendo participado e estado
presente no evento, posso testemunhar a dita invasão e afirmar que lhe merece
esse mesmo nome.
De acordo com o antólogo Gonçalo
Martins, a constante organização de cada edição tem um objetivo: quando dentro
de vinte anos alguém questionar o que era a poesia portuguesa de há vinte anos
atrás, a antologia será, por si mesma, a resposta ideal. No meio do milhar de
autores participantes, integro uma pequena parte de mim na resposta a essa
pergunta.
Na obra que é resultado do trabalho
da Chiado Editora e de um conjunto de ideias poéticas espalhadas um pouco por
todo o país, conseguimos, quase sem dar conta (ou, pelo menos, falo por mim),
unir-nos e criar uma pequena eternidade resultante da sua publicação.
Aqui fica o poema publicado.
Ciano, que gosta de ser o começo.
O tom inocente que faz os inocentes
despertar,
e que não me dá inocência suficiente
para conhecer o seu verdadeiro perfume.
Como pode esse azul, de tão pouco
mistério,
ter tanto a esconder?
Infinitos pontos de partida,
todos do mesmo tom,
que evoluem para infinitos desfechos,
todos igualmente diluídos em breu.
E como pode esse breu, de tanto
mistério,
ter escondido tão pouco?
Gosto de ouvir o que a chuva tem a dizer
sobre os tons que a deixam cair.
A escuridão só exalta os que sabem
que têm um começo pela frente,
e o começo só não exalta
porque chega sempre em tons de ciano.
O tom traidor que desperta os inocentes,
porque lhes mente com o ar de quem jura,
e jura tudo aquilo que mente.
MARIA MARGARIDA MADEIRA
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