segunda-feira, 20 de março de 2017

O MEU NOBEL - 1 Lembram-se de Aleksandr Soljenitsin (Prémio Nobel 1970)?


     Começamos hoje a publicar pequenos textos de professores, funcionários e alunos sobre os Prémios Nobel da Literatura que já lemos, a propósito de uma Exposição na Biblioteca na Semana da Leitura (27 a 31 de março). Se estiver interessado em colaborar connosco, escreva sobre uma ou várias obras e envie para blogueexpressao@gmail.com. O primeiro texto é de Honorato Esteves, professor de Português e Francês, sobre "Um dia na vida de Ivan Denisovitch". 

«Shukhov adormeceu completamente satisfeito, feliz. Fora bafejado por vários golpes de sorte durante aquele dia: não o haviam posto no xadrez; não tinham enviado a brigada para o Centro; surripiara uma tigela de kasha ao almoço; o chefe da brigada fixara bem as rações; construíra uma parede e tirara prazer do seu trabalho; arranjara aquele pedaço de metal e conseguira passá-lo; recebera qualquer coisa de Tsezar, à noite; comprara tabaco. E não caíra doente.
Um dia sem uma nuvem carregada, sombria. Quase um dia feliz.»
(pág. 198)

Li quase por acidente (era um livro de bolso, ideal para levar para a praia) este pequeno grande livro, relato realista e intenso de um dia na vida de um prisioneiro de um campo de trabalho na Sibéria, durante o regime estalinista – precisamente o mesmo onde o autor cumprira oito anos de trabalhos forçados:
Das cinco da manhã às dez da noite, Ivan Denisovich Shukhov, prisioneiro Cht-854, vive cada minuto entre a rotina adquirida nos três mil seiscentos e cinquenta e dois dias já passados no campo e a incerteza dos minutos seguintes, face a todos os imponderáveis, ditados pelo sistema corrupto ou pelo azar: as denúncias, as revistas, os castigos, o frio, o lugar onde lhe vai calhar trabalhar, a preocupação em não adoecer, os estratagemas para matar o frio e a fome...
Pelo meio dessa constante luta por manter a dignidade e a humanidade, fica ainda espaço para o sorriso, o sonho e a solidariedade. 

            Honorato Esteves

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