Depois
do postal de Natal no 1º período, com papel reciclado e impressão em tipografia
Freinet; após a construção das cabeças de fantoche no 2º período, também com
pasta de papel reciclado, chegou a vez da última atividade: teatro de sombras chinesas.
Como o
próprio nome indica, as sombras chinesas resultam da projeção da sombra de
figuras, provocada pela luz de um foco à retaguarda, contra uma tela
translúcida. As figuras podem ser ao natural (pessoas) e nesse caso a sombra é
projetada contra uma grande tela (lembro-me de encenar a lenda do S. Martinho),
ou serem recortadas em cartolina e
manipuladas como num teatro de fantoches. Neste caso basta usar um fantocheiro
com a abertura tapada por uma tela branca. É claro que esta atividade é para um
público pouco numeroso (20-30 espetadores).
Parece que esta técnica remonta,
diz a lenda, ao tempo do imperador chinês Wu-ti (140 - 87 a.c.): a bailarina
favorita do imperador terá morrido e ele pediu/exigiu ao seu mago imperial que
a trouxesse do reino das sombras. O mago lembrou-se de criar uma figura da
imagem da bailarina e de a projetar em sombra perante o imperador e a sua
corte.
Quanto
a mim, a explicação é mais prosaica e é a que tenho transmitido aos alunos: na
China, muitas divisões das casas eram separadas por simples tabiques de papel
(ou mesmo por biombos do mesmo material). Ora, como o papel é translúcido, a
sombra dos ocupantes era naturalmente projetada nas paredes de papel. Essa
propriedade foi sendo utilizada no teatro e espalhou-se pelo mundo.
Voltemos ao workshop deste
período. Depois do relativo êxito das atividades anteriores, pensei em desistir
das sombras chinesas por considerar esta atividade demasiado simplista e talvez
desmotivante. No entanto, após as duas primeiras escolas (Maçainhas com todos
os alunos e Augusto Gil com o 1º ano), estou admirado com a reação muito
positiva de alunos e colegas professores ou auxiliares. Durante a apresentação
da minha história os alunos não emitem um único som. No final demoram a reagir,
mesmo conhecendo a história e sabendo que chegou ao fim. Sente-se que foi um
momento de alguma magia. De seguida apresento as imagens que originaram as
sombras, explico como foram elaboradas, como se movimentam atrás do ecrã e peço
a dois voluntários que repitam a história (enquanto eu canto as quadras, com viola, com os alunos a acompanharem nalgumas
partes mais fáceis de memorizar. A história é muito simples e repete-se em
todas as escolas: "A Carochinha e o João Ratão".
Segue-se
a preparação da história que foi selecionada pelas escolas, "O peixinho
que brilha". Distribui-se a cada aluno um desenho de cada personagem em
papel (tamanho médio de 10x10 cm); cada um cola essa imagem numa folha de
pacote de leite (é um material muito superior à cartolina e pratica-se a
reutilização); segue-se o recorte com cuidado para destacar a silhueta ao
máximo; os adultos recortam alguns pormenores com o x-act; aplica-se com
fita-cola um arame de aço fininho (muito melhor que os paus de espetadas que
fazem tanta sombra como a figura) e está
pronta a personagem para manusear atrás do ecrã. Depois de verificar que a
sombra tem os pormenores que queríamos, terminamos a tarefa pois acabou-se o
tempo. Agora cada turma vai montar/preparar o seu fantocheiro (todas as escolas
possuem um) e ensaiar a história do peixinho que brilha.
Sempre
gostei de explorar as sombras chinesas (muitas vezes menos que o desejável por
culpa das metas). É uma atividade bastante interdisciplinar (Português,
Expressões Plástica, Dramática e Musical, pesquisa na internet...) e muito
motivadora para os alunos. Por outro lado, como os contadores/atores estão
escondidos, conseguem libertar-se do seu medo de exposição e todos os alunos se
voluntariam para atuar. Após a apresentação de uma história, pode repetir-se a
mesma para comparar as várias versões. Para não cansar, costuma passar-se para
a improvisação: dois ou três alunos combinam um diálogo ou o guião de uma história,
escolhem as figuras do acervo (que vai crescendo com os anos), escondem-se
atrás do fantocheiro e... às tantas é preciso mandá-los calar ou desligar-lhes
o foco.
José
Neto (professor do 1º ciclo)
0 comentários :
Enviar um comentário
Os comentários anónimos serão rejeitados.