CARLOS BARROCO ESPERANÇA, ex-aluno do Liceu Nacional da Guarda, escreveu no Blogue PONTE EUROPA um texto muito interessante a propósito do almoço de antigos estudantes da Guarda hoje, dia 10, realizado na Mealhada. Ei-lo:
A Guarda é
mais do que a memória das famílias que emigraram do seu distrito para a
diáspora. A cidade foi o ponto de passagem de gerações de estudantes que vieram
das aldeias para trilhar um percurso que os libertasse da vida dos seus pais e
avós.
Numa pequena cidade de província, onde eram em maior número os
estudantes do que o resto da população, era natural que os laços se
aprofundassem entre colegas, que a vida girasse em torno dos estabelecimentos
de ensino e as relações entre alunos fossem mais profundas e duradouras do que
nas grandes cidades onde as turmas se extinguem depois das aulas.
A
grande concentração de estudantes no pequeno espaço urbano e os
constrangimentos de um meio altamente conservador e repressivo fez nascer a
robustez dos laços afetivos que resistiram ao tempo e se destacam em cada novo
encontro.
O
dia de hoje foi o regresso ao passado e ao espaço da nossa adolescência, um
encontro da memória com os afetos, numa explosão de saudade que julgávamos
adormecida.
Quem
passou pela Guarda e viveu intensamente a passagem, saiu para voltar de novo e
procurar nos rostos dos que então conheceu a juventude que passou. Hoje, no
almoço, foi a velha Guarda que esteve presente, a juventude de cada um de nós
que regressou, um nunca mais acabar de memórias exumadas do sótão do tempo e de
afetos escondidos nas preocupações do quotidiano.
Saímos
da Guarda sem deixar que a cidade saísse de nós, trazemo-la na memória de um
percurso que dela nos afastou, anda connosco e tropeçamos nela em cada amig@
que vemos, em cada falecido que carpimos, em tod@s @s que frequentaram os
mesmos locais e viveram em idênticas condições.
No
dia de hoje regressámos aos sabores da infância nas vitualhas adrede
encomendadas, aos sonhos da adolescência, aos afetos de uma vida e às memórias
de sempre. O enorme apego à cidade onde iniciámos o futuro foi o afetuoso
pretexto para o encontro que nos rejuvenesceu e apaziguou as saudades que
trazíamos.
Nesta
jornada de saudade procurámos velhos amigos e avivámos memórias, recordámos a
água gelada na jarra da secretária dos professores, as faltas de castigo e de
material, os nevões que duravam semanas, a água congelada nos canos das casas,
os colégios, o liceu, o seminário, o Centro Social, os lares, as casas que
recebiam hóspedes e as que amesendavam ao farnel.
E
ficámos a saber, se acaso o não sabíamos ainda, que o melhor da Guarda fomos
nós próprios, na generosidade dos afetos, na cumplicidade dos copianços, no
silêncio das travessuras e na franqueza das relações.
É
dessas memórias longínquas que também se faz a felicidade do tempo que ainda
tivermos.
Um
abraço de cada um para tod@s @s outr@s. Até sempre, companheir@s.
Coimbra,
10 de março de 2018
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