segunda-feira, 12 de março de 2018

LEITURAS NO EPG Vá para fora cá dentro



No dia 8 de fevereiro de 2018, no Estabelecimento Prisional da Guarda, decorreu um evento tendo como tema o livro “Vá para fora cá dentro!”, escrito por oito reclusos desta mesma penitenciária, no âmbito da Oficina de Escrita e Leitura em Voz Alta, dinamizada pela Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço e sob orientação de Américo Rodrigues.
Para esta atividade, estiveram presentes alunos do 10º, 11º e 12º anos de escolaridade do Agrupamento de Escolas de Celorico da Beira, alguns professores, o Dr. Américo Rodrigues e outras individualidades.
No decorrer do evento, alguns destes alunos escolheram e leram vários poemas de diferentes autores, alguns dos quais ao som da viola. Depois da leitura, alunos e professores questionaram os próprios autores sobre o que os levou a escrever o livro, a sua motivação e as emoções e sentimentos que experimentaram ao fazê-lo. Também manifestaram opiniões pessoais sobre o que pensam sobre a vida dos reclusos que integram o sistema prisional.
A minha opinião é que a sociedade ainda não quis abrir os olhos e, por isso, continua a criar um forte estigma em relação à vida no interior das cadeias e à sua população reclusa.
A maioria das pessoas tem a ideia de que este espaço correcional alberga pessoas que fazem do viver à margem da lei um estilo de vida, que só praticam atos de delinquência e que não possuem quaisquer capacidades para conseguirem ter uma vida social normal e que a “prisão” é o lugar indicado onde devem passar o resto dos seus dias. Veem estas pessoas como um constante alarme social, sem lhes darem uma segunda oportunidade. Enganam-se profundamente!
O preconceito que existe não se pode aplicar a todos. A verdade é que ninguém é perfeito, todos têm o direito de errar e acho certo que, quando a lei não é respeitada, o sistema judicial puna os infratores. Na realidade, parte dos reclusos que se encontram a cumprir as penas às quais foram condenados são pais e homens de família que tinham o seu próprio trabalho e as mesmas responsabilidades do dia a dia que toda a gente tem. Porém, estas estão agora suspensas até ao término das suas condenações.
Os reclusos já estão a pagar pelos erros que cometeram e o caminho que percorrem desde que são condenados até ao dia da liberdade não é fácil, tendo de ser acompanhados psicologicamente. Mas o tempo que aqui passam dentro não é desperdiçado, pelo menos por alguns, que aproveitam para se reabilitarem, para perceberem e reconhecerem os crimes que cometeram e sentirem-se aptos para reintegrarem novamente a sociedade. Entre outras atividades, frequentam a escola e formações de vários tipos, trabalham no interior do estabelecimento prisional, praticam desporto…
Ao contrário daquilo que pensam e do juízo que fazem, os “presos” são pessoas perfeitamente normais e muitos deles possuem um grau de desenvolvimento intelectual superior à média.
Ao invés de existir discriminação social em relação a estas pessoas, deveriam ajudá-las e aproveitá-las para bens maiores.
Falco Vieira, 10º R

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