terça-feira, 29 de outubro de 2019

31 VEZES SOPHIA (23) O real e o irreal, o alcance da plenitude



A poesia de Sophia joga-se muitas vezes no desenho de um futuro em que se há de atingir a totalidade, em oposição à precariedade da vida comum. Esse “final” pode ser marcado pela fusão com o mar ou com as paisagens, adotando o seu “ritmo”. Ou então pela inversão do ciclo natural da vida, desejando regressar às fontes, onde a pessoa se cumprirá na sua integralidade, quebrando as pontes que a ligam ao “irreal”. O real será essa comunhão com o que de mais “original” há no mundo: as fontes, por exemplo.
Eis dois poemas em que essa conquista do “real” se realiza melhor.

AS FONTES

Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até as fontes.

Irei até as fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.

Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.

EM TODOS OS JARDINS

Em todos os jardins hei de florir
Em todos beberei a lua cheia
Quando no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
a tudo quanto existe hei-me de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como um beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.


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