A poesia de Sophia joga-se muitas
vezes no desenho de um futuro em que se há de atingir a totalidade, em oposição
à precariedade da vida comum. Esse “final” pode ser marcado pela fusão com o
mar ou com as paisagens, adotando o seu “ritmo”. Ou então pela inversão do
ciclo natural da vida, desejando regressar às fontes, onde a pessoa se cumprirá
na sua integralidade, quebrando as pontes que a ligam ao “irreal”. O real será
essa comunhão com o que de mais “original” há no mundo: as fontes, por exemplo.
Eis dois poemas em que essa conquista
do “real” se realiza melhor.
AS FONTES
Um
dia quebrarei todas as pontes
Que
ligam o meu ser, vivo e total,
À
agitação do mundo do irreal,
E
calma subirei até as fontes.
Irei
até as fontes onde mora
A
plenitude, o límpido esplendor
Que
me foi prometido em cada hora,
E
na face incompleta do amor.
Irei
beber a luz e o amanhecer,
Irei
beber a voz dessa promessa
Que
às vezes como um voo me atravessa,
E
nela cumprirei todo o meu ser.
EM TODOS OS
JARDINS
Em todos os
jardins hei de florir
Em todos
beberei a lua cheia
Quando no
meu fim eu possuir
Todas as
praias onde o mar ondeia.
Um dia serei
eu o mar e a areia,
a tudo
quanto existe hei-me de unir,
E o meu
sangue arrasta em cada veia
Esse abraço
que um dia se há de abrir.
Então
receberei no meu desejo
Todo fogo
que habita na floresta
Conhecido
por mim como um beijo.
Então serei
o ritmo das paisagens,
A secreta
abundância dessa festa
Que eu via
prometida nas imagens.
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