Caio Júlio Fedro (latim: Gaius Iulius Phaedrus) era filho de escravos,
como Esopo, e viveu no século I d.c.. O imperador Augusto deu-lhe carta de
alforria e dedicou-se então à escrita de fábulas. A maior parte delas eram as
de Esopo que ele reformulou e adaptou à mentalidade romana. Viveu nos reinados
dos imperadores Tibério e Calígula e fez a sátira dos costumes e das
personagens de sua época. Por isso, como os seus textos causaram muitos
incómodos, acabou sendo exilado. Publicou cinco livros de fábulas “traduzidas”
de Esopo, com prováveis alusões aos acontecimentos de sua vida.
As fábulas tinham sempre
uma lição de moral que aplicadas à sociedade serviam em muitas circunstâncias
de críticas de costumes. Fica uma das mais conhecidas:
O lobo e o cordeiro
Estava um lobo a beber água num rio,
quando avistou um cordeiro que também bebia da mesma água, um pouco mais
abaixo. Mal viu o cordeiro, o lobo foi ter com ele.
“Que vem a ser isto, seu malandro?”, disse o lobo. “Que pretendes, turvando
a água para que eu não possa bebê-la?”
“Desculpa”, replicou o cordeiro, “mas, como eu estava a beber mais abaixo,
não pensei sujar a água onde tu estavas.”
O lobo estava resolvido a brigar com o cordeiro.
“Pode ser”, disse ele, “mas há seis meses disseste mal de mim nas minhas
costas, seu malvado.”
“Não pode ser”, disse o cordeiro. “Há seis meses eu ainda nem sequer tinha
nascido!”
“O quê?”, disse o lobo. “Não tens vergonha? Toda a tua família sempre odiou
a minha. Se não foste tu que disseste mal de mim, foi o teu pai!”
E, dizendo isto, o lobo saltou para cima do pobre cordeiro, despedaçou-o e
comeu-o.
Moral
da história
Os que
são desprovidos de sentimentos humanos raramente darão ouvidos à voz da razão. Quando
o poder é dado à crueldade e à injustiça, é inútil argumentar contra eles,
porque o opressor achará sempre maneira de culpar a sua confiada vítima.
Fonte: Fábulas
de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.
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