domingo, 20 de abril de 2014

25 de abril 40 anos - 22 - O 25 de abril de Carlos Almeida


O meu 25 de ABRIL de 1974
 Em 1973/74 Carlos Almeida tinha 18 anos e era o Aluno nº 43 da turma IV do 7º ano do Liceu Nacional da Guarda.
Hoje é Diretor do Agrupamento de Escolas de Peniche. Aqui fica o seu testemunho sobre aquele dia. 

            Nessa quinta-feira, saí de casa para ir para o Liceu (hoje Escola Secundária Afonso Albuquerque, na cidade da Guarda), onde era aluno finalista, do 7º ano, portanto. Entrava às 8:30 h. Pelo caminho encontrei o Daniel Janela que me informou que tinha ouvido umas coisas e “em Lisboa havia novidades”. O Daniel Janela era dos rapazes que, naquele tempo, mais sabia destas coisas.
            No Liceu havia informações contraditórias. Ao meio-dia e meia hora, quando fui almoçar, já a esperança era maior. Pouco depois de contornar o quartel, já na descida para o Bonfim, fiquei parado a ver passar os carros militares que transportavam tropas. Era fácil de perceber que iam na direção da fronteira, em Vilar Formoso.
            Numa das aulas da tarde, uma professora ainda tinha esperanças, porque “ele” (Marcelo Caetano) ainda não se tinha rendido. As esperanças da professora eram o meu receio.
            Só à noite, depois de horas a “dar música”, a RTP (a preto e branco) apresentava ao país a Junta de Salvação Nacional. O jornalista de serviço era o Fialho Gouveia. O homem forte da JSN era o General António de Spínola que liderava um grupo de 7 militares (só apareceram 6, porque um, salvo erro Diogo Neto, estava em Angola). Era a certeza! Havia uma revolução em Portugal! Sensação tão estranhamente feliz. Feliz, porque SIM. Estranha, porque Portugal era um país de “brandos costumes” e havia uma monotonia nos dias iguais…
            Na véspera o meu Sporting perdera em Magdeburgo por 2-1 para a Taça das Taças. Era a 2ª mão das meias-finais. O 2-2 servia, mas Tomé falhou um golo quase no fim. Vi esse com raiva e um fino no Caçador…
            No dia 26 fomos para o Liceu e não houve aulas, pelo menos para nós. Juntámo-nos aos colegas do Colégio de São José e da então Escola Comercial e Industrial e começaram as manifestações espontâneas. De todo o lado aparecia gente. Gente feliz. “Grândola, Vila Morena” e o Hino Nacional eram cantados, por toda a cidade.
            Eu tinha 18 anos feitos, a maioria dos meus colegas tinha 17/16 anos. A maioridade era atingida aos 21 anos! A escolaridade obrigatória passara dos 4 anos (a 4ª classe que era a meta obrigatória quando ingressei na Escola Primária) para os 8 anos, por reforma do último ministro da Educação antes do 25 de ABRIL, Veiga Simão, natural do distrito da Guarda. Essa reforma começada em 1973 foi interrompida e a escolaridade obrigatória nunca chegou a ser de oito anos na prática. Passou para o 9º ano, antigo 5º ano do Liceu. Depois, mais tarde, o 9º e agora o 12º…
            E que fazia um jovem de 18 anos, naquele tempo? Eu jogava futebol federado, desde os 16 anos, Com essa idade integrei a equipa do Grupo Desportivo de Vila Nova de Foz-Côa. Em 1974 representava a equipa de Manteigas. Também jogava andebol, no desporto escolar, pelo Liceu.
            Ouvia música – Beatles, Moustaki, Fanhais (para abranger leque mais variado) e até um professor do Liceu da Guarda, António Macedo, autor da canção “Canta canta amigo canta/ vem cantar a nossa canção/ tu sozinho não és nada/ juntos temos o mundo na mão”. Brel, Aznavour, Gigliola Cinquenti, Chico Buarque, Zeca Afonso…
            Ia ao cinema, muito de vez em quando. Recordo o êxito que foi na Guarda, com filas enormes para adquirir bilhetes para ver Terence Hill e Bud Spencer em “Trinitá, o Cow-boy insolente”… Sabíamos que “lá fora” era possível ver um filme de Bertolucci, “O Último Tango em Paris” com Maria Schneider e Marlon Brando. Esse filme estava proibido em Portugal.
            Lia. Lia muito. Eça, Aquilino, Camilo, Bocage (às escondidas), Jorge Amado, Machado de Assis, Albert Camus, Sartre, Steinbeck, Moravia, Tostoi, Gorki, Flaubert, Zola, Georges Simenon (por causa do Maigret)…
            E a Guarda já tinha um Supermercado! Era o Prolar, no edifício com o mesmo nome. A surpresa que foi ir às compras e não ter que pedir os produtos ao balcão!
            Passaram 40 anos. Demasiado depressa. Mas retenho de ABRIL duas imagens fortes, para lá das manifestações: a maneira gentil, sorridente e simpática com que descobrimos nas mesmas pessoas outras pessoas e o modo como a Primavera passou a ter outros cheiros, outras cores e outros sons…

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