Expresso censurado |
Escrever e publicar o que se quer parece hoje algo banal mas a ideia de
“censura” ou de “exame prévio” era algo de natural no período antes do 25 de
abril de 1974. Num jornal escrever um texto pressupunha que antes da publicação ele
seria sujeito à Comissão de Censura (nos anos 70 do século passado chamada
Exame Prévio) e eventualmente cortado ou impedido de ser publicado. Era um quebra-cabeças
para as redações e direções dos jornais que viam de repente uma parte dos
textos impedidos de serem publicados, parte que, cortada, modificava o sentido
do resto do texto. Chegou mesmo a acontecer que esses espaços foram ocupados
por publicidade por falta de textos não cortados para esse espaço. No semanário
Expresso, surgido em janeiro de 1973,
se na primeira página aparecia o retângulo “Expresso - um jornal para saber ler” sabia-se já que
esse espaço tinha sido cortado pela censura.
Lista dos textos cortados pela Censura numa edição do Expresso |
Nos últimos anos antes do 25 de abril os jornalistas e diretores faziam
uma espécie de jogo de gato e do rato com os censores, entregando maquetes em
momentos em que estivessem ao serviço censores menos rigorosos ou quando o
tempo já fosse curto para análise. Outras vezes, eram os diretores (ex. Marcelo
Rebelo de Sousa) que falavam diretamente com os censores, esclarecendo-os e
pedindo compreensão, às vezes mesmo em casa deles. Esse esconde-esconde
jogava-se também em outros âmbitos. Por exemplo, a mulher de Francisco Balsemão (diretor do Expresso),
que tinha o pseudónimo Marcos Cruz e fazia as palavras cruzadas neste jornal, incluía aí piadas políticas e
a partir de certo momento a Censura obrigou mesmo o jornal a enviar
antecipadamente as soluções. Tal era o garrote que a Censura fazia que o
Expresso admitiu mesmo a hipótese de fechar já que era impossível trabalhar
assim muito mais tempo.
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