Tinha
acabado a antiga 1ª classe, já lá vão mais de cinquenta anos, quando comecei a
ler jornais. Penso que foi aí que começou o meu vício da leitura. Para os que
não acreditarem, eu explico.
Àquela
aldeia isolada da serra da Malcata, sem estrada nem transportes, apenas
chegavam dois jornais no correio semanal: O
Século e O Amigo da Verdade. Tive
a sorte de o meu avô ser dos raros assinantes de um deles, O Amigo da Verdade, semanário editado pela diocese da Guarda,
portanto jornal religioso (penso que ainda é editado, com as mesmas rubricas: pequenas
notícias do país e do mundo; conversa entre dois compadres; novela por
episódios; anedotas…). Mal os seus netos
começavam a ler, aos domingos o avô Manuel pedia a cada um para lhe ler o
jornal. A nossa leitura em voz alta ainda não era interpretativa e o nosso
espanto era enorme quando o avô nos corrigia as palavras (“Como é que ele sabe
o que está escrito, se não está a olhar para o jornal?!”). Nesse tempo, na
minha aldeia não havia luz elétrica, muito menos rádio ou televisão. As
notícias chegavam de viva voz ou pelo correio, através dos jornais anteriormente
referidos (e também A Voz, jornal
assinado pelo senhor prior). A pouco e pouco, alguns rapazes e raparigas
começaram a sair para estudarem (no seminário ou no liceu) e durante as férias
assinavam alguns periódicos. Lembro-me do Diário
de Lisboa, com as suas famosas Cartas
da Guidinha (sem qualquer pontuação); não me esqueço do desalinhado Comércio do Funchal, editado em papel
cor-de-rosa, com os famosos espaços sem qualquer texto, porque alguns artigos
ou notícias tinham sido cortados/reprovados pela censura política (subterfúgio
que chegou a ser usado pelo vizinho Jornal do Fundão); fui comprador e leitor
assíduo do antigo Jornal, desde o
primeiro número…
Mas
deixemos as recordações do passado e regressemos ao presente.
Ninguém
duvida de que a informação mais atualizada é fornecida através da Internet,
sobretudo pelos programas de conversação. Confesso que estou bastante
desatualizado nestas andanças. Falta-me a paciência para pesquisar e
selecionar, sinto dificuldade em filtrar o essencial e sou cada vez mais cético
relativamente ao que encontro. Assim, na Internet limito-me, alguns dias, a
consultar os jornais ou revistas que não tenho oportunidade de adquirir. Na
verdade, não há nada que se compare ao cheiro a tinta fresca de um jornal que acaba
de chegar ao quiosque, de madrugada; o suave barulho das folhas que se vão
passando com o dedo; o sabor e o aroma do café que acompanham tudo isto… (e
outras virtudes que eu estou a plagiar).
Apenas
em tempo de férias compro jornais (ou revistas) todos os dias. Habituei-me a
comprar o Público porque gosto de ler
essencialmente artigos de opinião e notícias desenvolvidas e sedimentadas.
Esporadicamente troco o Público pelo Diário de Notícias. Também nas férias tenho por hábito adquirir o Expresso, sobretudo pela competência dos
cronistas que aí escrevem e pelos trabalhos desenvolvidos na revista. Uma
revista que nunca esqueço de comprar é a Visão,
à quinta-feira: considero que pratica uma informação nacional e mundial muito idónea
e credível, atualizada e bem desenvolvida.
Finalizo
com a TV: aqui privilegio a informação política, económica e social. Costumo
fugir da informação repetitiva e de perseguição. É normal fazer zapping pelos canais de sinal aberto ou
por cabo, mas não tenho por hábito acompanhar canais estrangeiros (salvo alguns
espanhóis, devido à facilidade de compreensão da língua). É difícil ou raro
ficar a ver um programa depois da meia-noite.
Estamos
na era da informação instantânea. Pesando as suas vantagens e perigos, a sua
rapidez e vulnerabilidade, opto, por comodidade, mais pela informação
tradicional.
É bem verdade: a idade não perdoa!
27/10/2016
José Neto
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