10º A
Textos resultantes da Oficina de Escrita dinamizada por Luís Chaves e promovida pela BMEL em colaboração com a Bibl. Escolar Vergílio Ferreira (da ESAAG) em março-maio 2017 na ESAAG
Transformação livre de lendas da região
da Guarda
Criação livre de frases a partir de colagem de recortes de jornal
Maria
Uma igreja
suspensa, toda fechada, com apenas um buraco bem profundo, gradeado, situado
sensivelmente a meio, é conhecida como a Fraga da Moura. Através do orifício
apenas é possível ver a escuridão do local e em dias muito iluminados algumas
sombras. Conta-se que aqui está encerrada uma moura com toda a sua riqueza, a
voz.
Certo dia, um
produtor musical que se deslocou a Lisboa, ao procurar insistentemente guarida,
encontrou-a em casa de uma senhora já idosa. Quando se preparava para pagar a
refeição servida, com o pouco dinheiro que levava, ouviu como resposta se já
tinha ouvido falar da Fraga da Moura, e logo de seguida as indicações precisas
sobre a localização.
A senhora
acabaria por desafiá-lo a ir à igreja, onde se encontrava encerrada a moura,
logo no dia seguinte, depois de apanhar quatro autocarros para o conseguir e
cumprindo sempre as indicações que ela lhe dera.
Assim, depois de
ali passar a noite, o produtor ouviu-a explicar que havia de encontrar a igreja
e o buraco onde deveria introduzir o microfone feito há muitos anos por ela
própria. "Este microfone há de caber no buraco, mas só o deves meter lá
dentro quando chamares por Maria e de dentro te responderem."
Sucedeu tal como
a senhora disse. O homem encontrou a igreja, aproximou-se do buraco, onde
colocou a boca e chamou por Maria. Só à terceira lhe responderam, cantando:
"Maria Leal
aqui só para ti!"
"Trago-vos
aqui um microfone.". E introduziu o microfone pelas grades, mas com
uma atrapalhação tal que o desligou.
"Desastrado!
Desligaste-me o microfone, perdeste todos os meus tesouros vocais! Mas dou-te
um CD”; e foi-se embora.
Prontamente,
editou-o e deu-o a conhecer ao mundo; esteve em primeiro lugar em todos os tops
mundiais.
Voltou à igreja,
para pedir mais CD`s, mas a moura não lhe respondeu, nem lhe deu mais nenhum.
Beatriz Filipa. Texto a partir da
lenda “Basília”.
Viveu em
Mirandela, nos recuados tempos da sua formação, um rapaz de uma beleza
intrigante, que o povo via com maus olhos. Sobre ele pouco ou nada se sabia.
Aparentemente era
normal, vestia-se de acordo com a moda da altura, vivia numa grande casa, era
bem falante, tinha alguns amigos, etc… No entanto, algo nele parecia
sobrenatural. Ele era insensível e frio, não parecia nutrir qualquer sentimento
por ninguém, era independente, orgulhoso e parecia ser superior a todos os
tipos de dor. Outro facto estranho nele era que a maior parte dos seus amigos
acabava por desaparecer misteriosamente, após algum tempo. Todos estes aspetos
faziam com que ele não passasse despercebido no meio da população, era visto
como um demónio na Terra.
Certo dia, um
grupo de locais decidiu elaborar um plano para descobrir mais acerca de tão
misterioso rapaz. Decidiram eleger alguém para tornar-se amigo dele e descobrir
informações. A pessoa escolhida para a tarefa foi uma jovem da idade do rapaz.
Ela era vista como uma rapariga muito madura, responsável e tinha um bom
sentido de humor. A rapariga não teve escolha senão aceitar.
Num sábado,
quando ia a caminho da fonte, deu de caras com o rapaz. Como não sabia como o
abordar começou a cantar para captar a sua atenção. Seguidamente apresentou-se
e começou a falar com ele. A voz dele era grave, séria, olhava para ela
desconfiado, não a conhecia de lado nenhum. Ao aperceber-se do desconforto
dele, ela começou a contar piadas e a dizer coisas sem sentido, ele não
conseguiu evitar e soltou uma gargalhada à qual a rapariga respondeu com um
ataque de riso. Foram juntos à fonte, percurso que passaram a realizar todos os
dias; foram-se tornando amigos, mas o amor não tardou a nascer no coração dela.
O tempo foi
passando, até que, certo dia, ele levou-a a um bosque onde se encontrava um
portal secreto para outro Universo. Era esse o grande segredo dele, o rapaz era
um extraterrestre.
Ele contou-lhe a
história toda e pediu-lhe para atravessar o portal, dizendo que a amava e que,
por essa razão, a queria tirar do planeta Terra. Queixava-se também de que a
espécie humana só sabia fazer sofrer.
A rapariga
atravessou o portal e foi dar a outro Universo, onde encontrou os amigos dele
desaparecidos; lá todos eram felizes, não havia dor, daí ele ser superior a ela.
Ela não regressou
e, por isso, o mistério continuou por resolver até aos dias de hoje.
Juliana Amaral. Texto a partir da
lenda “A Fonte de Marrocos”.
Viveu numa aldeia, nos primórdios da sua
formação, junto a Lisboa, uma mulher muito bela, que o povo via apenas durante
o dia. Ela era uma rapariga de cabelos de ouro, olhos esverdedos, de olhar
profundo, que aparentavam cansaço e alguma melancolia.
Dizia-se, na boca do povo, que a jovem teria
origem nórdica, porém certezas não as havia. Ela era alguém de quem os locais
desconfiavam e de quem as idosas da aldeia falavam todas as manhãs, quando se
juntavam no convívio. Dizia-se que não era batizada, muito menos católica, que
provavelmente traria em si o Diabo em pessoa, e que estaria ali para amaldiçoar
a povoação. Outros defendiam que estaria ali pelo mal, porém os homens da
aldeia acreditavam que a rapariga teria sido enviada por Deus para os guardar,
com a sua beleza inexplicável, algo sobrenatural. Acerca disso pouco se sabia,
aparentava ser uma pessoa solitária, evitando o contacto com todos,
reprimindo-se.
Todas as manhãs, um grupo de aldeãs, cujo tom de
pele refletia o árduo trabalho no campo, seguiam a jovem até a um descampado,
onde esta parava todos os dias. Aproximava-se de uma fonte, e desaparecia entre
as suas águas cálidas. O facto é que, todos os dias, ela desaparecia e só voltava
a ser vista no fim da tarde, quando, solitária, caminhava junto das quintas da
povoação rumo à cabana na floresta, onde pernoitava. Até hoje, nada da sua vida
é conhecido, muito menos o propósito da jovem deslocar-se à fonte todas as
manhãs, assim como nunca foi descoberta nenhuma passagem para o interior da
fonte. Sabe-se unicamente que fonte remonta aos primórdios da fundação da
aldeia. No entanto, corre um boato: sempre que alguém se dirige à fonte, pode
ouvir uma deusa nórdica a cantarolar.
Beatriz Costa. Texto a partir da lenda “A Fonte de Marrocos”.
A Fonte dos Pés Descalços
Viveu em Aveiro,
nos recuados tempos da sua fundação, um homem que o povo via, por vezes, a
frequentar tabernas, com uma barba enorme e sempre descalço. Não sabiam de onde
era, apenas que era novo na cidade.
Era pobre, não
tinha família e praticamente não falava, somente fazia gestos de modo a vender
os seus produtos.
Uns diziam que
era oriundo de Espanha, outros que vinha das terras para lá do Atlântico. Mas
ninguém tinha certezas quanto ao seu local de origem, apenas que costumava
desaparecer quando entrava numa fonte, à qual deram o nome de Fonte dos Pés
Descalços.
Certo dia, três
velhotas seguiram-no até à Fonte. Ao chegar lá, ele desapareceu em nuvens cor
de rosa, como se alguém o levasse sem levantar suspeitas.
“Parece que o
levou o Pai Natal!”, disseram.
Jamais foi
descoberto o sítio por onde entrava, mas desconfiava-se que apenas entravam
pessoas sem qualquer sapato e que seriam levadas para a Ilha dos Sapateiros.
Maria Fidalgo. Texto a partir da lenda “A Fonte de Marrocos”.
Muitos animais tentaram segui-la, mas era muito rápida e
facilmente a perdiam de vista… até que um pequeno rato teve a coragem e a
curiosidade para ir até à toca misteriosa. Esperou perto, mas ela não aparecia,
até que surgiu de dentro da floresta a correr em direção ao riacho, onde
mergulhou e desapareceu como por magia. O rato ficou encantado com aquele ser
místico, pensou que ela tinha morrido afogada; foi para a beira do riacho e viu
um pó cristalino à tona da água, mas nenhum sinal da raposa… De tão encantado que
estava com tudo o que viu, o rato saltou para o riacho e perdeu-se na
intemporalidade, num outro Mundo, talvez…
A raposa continuou a aparecer sem que os animais chegassem a
qualquer conclusão sobre o que ela era ou que fazia ali, nunca mais nenhum a seguiu.
Mas, tão ou mais difícil de entender, foi a aparição de um pequeno nenúfar à
tona da água do riacho, perto da toca da raposa.
Madalena Fonseca. Texto a partir da lenda “A
Fonte de Marrocos”.
(Frases criativas / colagens de Juliana Amaral, Maria Fidalgo, Luana Amaral, Inês Silva e João Marques, por esta ordem)
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