1)manuel a. domingos
nunca
cheguei a escrever um poema sobre
a cidade
ser à noite um carrossel
de luzes.
nem outro sobre
a
fotografia onde fiquei com ar
envergonhado.
ou sobre o frio e
o passeio
por Hyde Park, onde
pássaros
vieram comer às tuas mãos
e eu
deixei fugir alguns versos
só para
te poder fotografar. ou sobre
a casa
estilo vitoriano, que prometeu
ocultar
todas as palavras que dissemos
um ao
outro, quando ao deitar
nos
encolhíamos debaixo de
vários
cobertores e mesmo assim
tínhamos
frio. ou o definitivo,
aquele
que falaria sobre Greenwich
e o
meridiano que me ensinou a importância
do tempo
que sempre falta, principalmente
quando
numa das pontes quis dizer amo-te,
mas havia
um autocarro para
apanhar.
e era já o último.
in mapa
Domingo, 30/9/2007
Hoje, aqui, caiu uma
árvore sobre
um Peugeot 106 preto,
de madrugada.
O carro, aparentemente,
morreu a dormir.
Fomos lá ver, de mão
dada.
(Uma mão pequenina na
minha mão grande)
Uma moto-serra
despedaçava a árvore caída.
Falava-se de seguros.
Espreitámos com
respeitosa atenção
o cadáver do
automóvel.
Paz à sua alma.
À tarde uma banda
passou na rua.
Levava um carro da
polícia à frente, outro atrás.
Hoje é a festa em
Famalicão,
mas a banda - que
estranho - passou aqui,
à minha porta, em
Telheiras, Lisboa.
Pessoas chegaram-se
às janelas e varandas.
A banda tocava bem.
O alcatrão parecia
pouco familiarizado
com bandas filarmónicas,
ao contrário daqueles
paralelepípedos,
brancos com farinha
de pão nos intervalos.
Quando a avó foi para
o hospital
para não voltar mais
deixou feito o
arroz-doce para a festa.
(in Poemas e outros poemas)
0 comentários :
Enviar um comentário
Os comentários anónimos serão rejeitados.