terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

CONGRESSO DA APPF - 5 Os caminhos do ensino do francês


Carlos Pais Rodrigues conclui hoje as respostas sobre o congresso da APPF.

Que caminho há a percorrer pelo FLE (Francês Língua Estrangeira)?
Com as mudanças registadas nas últimas décadas, quanto a mim, seria erróneo continuar a pôr a tónica na imagem, por vezes nostálgica, que ficou do Francês dos anos 70 ou 80 – embora, em termos de património (mesmo mundial), não se deva ignorar a música (engagée ou não), a literatura, a pintura,… e, recuando ainda mais no tempo, os valores da Resistência, da própria Revolução Francesa,… Não haja dúvidas de que, tal como Portugal, mas à sua maneira, a França também “deu novos mundos ao Mundo”!
Hoje, talvez tenhamos de ser mais pragmáticos; apesar de toda a interculturalidade evidente na aprendizagem de uma língua estrangeira, é bom sublinhar que a mesma serve em primeiro lugar para COMUNICAR !
Há que levar o aluno a perceber e sentir que não se trata de mais uma disciplina no currículo, que aquilo que é suposto ele aprender o vai deveras informar e enformar e que lhe poderá mesmo vir a ser útil, quer seja num contexto mais informal (uma visita de estudo a França – relembro aqui o projeto Paris Nous Voici), quer na sua vida futura, enquanto académico ou profissional. Como simples exemplo, não seria bom relembrar que a Ciência também “fala francês”: que há 23 prémios Nobel de Física e Química (os últimos em 2016 e 2018), que a Agência Espacial Europeia tem sede em Paris e que os foguetões Ariane são lançados do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa (América do Sul), ou que o CERN (correspondente à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) se situa na região de Genebra, na fronteira franco-suíça!?
E, para estabelecermos essa ligação com a realidade, as novas tecnologias e particularmente a Internet assumem-se como trunfos poderosíssimos, quer para o docente, na preparação de materiais didáticos e pedagógicos, quer para o aluno, na pesquisa e na eventual elaboração de trabalhos de casa. A informação e os conteúdos transbordam – a dificuldade será mesmo saber fazer a devida seleção! A título de recomendação e de exemplo, fica aqui a referência à fantástica plataforma do canal francês TV5 MONDE, para potenciais candidatos ao DELF scolaire.
Projetos já anteriormente referenciados, sob a tutela da DGE, da SGEC, da ANE+,…ou até concursos promovidos pela APPF (Affiche ton Français – em que esta escola já obteve um honroso 3º lugar –, La Chanson en Scène,…) são também fundamentais para criar processos dinâmicos que vão muito para além da tradicional aula intramuros.
É ainda de referir, como fator muito positivo, o espírito dos recentes Decretos-Lei 54 e 55, ambos de 2018, que insistem no trabalho colaborativo e interdisciplinar – como se vem fazendo há anos no projeto SELF, sob a tutela da DGE – e que permitiram, a partir do ano letivo em curso, nesta escola, flexibilizar a organização da carga horária semanal das línguas estrangeiras, proporcionando um espaço de relevo e condições adequadas (e há muito reclamadas) para uma prática séria e apropriada da oralidade.
Por último, mas não de somenos importância, veria com bons olhos, em prol do retorno ao fundamental, o libertar as escolas/ os professores de uma acrescida carga burocrático-administrativa que, paulatinamente, se foi cristalizando ao longo dos anos.
la cerise sur le gâteau seria, de facto, conseguir o pleno envolvimento pessoal de todos os nossos pequenos francófonos, cabendo, nesta parte, responsabilidades a todos nós, alunos, professores e pais/ encarregados de educação.
É com esta ideia que termino, reproduzindo uma frase projetada no decurso de um ateliê do XXVIº Congresso da APPF e provando também assim que, ao confiar nas competências linguísticas dos nossos leitores e apesar de citar Confúcio, o Francês não é de todo Chinês: « Dis-moi et j´oublierai ; montre-moi et je me souviendrai ; implique-moi et je comprendrai ».

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