domingo, 20 de outubro de 2019

31 VEZES SOPHIA (14) Sophia, o silêncio e as leituras



Ao longo de um mês (até ao centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, a 6 de novembro) o Blogue EXPRESSÃO publica um texto por dia à volta de uma das autoras mais consensuais do nosso panorama literário e que publicou sobretudo poesia e narrativa curta, nomeadamente de índole infanto-juvenil. Pedimos aos leitores (professores, alunos, funcionários, outros leitores extra-escola) que queiram dar o seu testemunho sobre a sua visão da escritora ou dos seus textos que o façam para blogueexpressao@gmail.com

      Sophia de Mello Breyner Andresen tinha um feitio algo introspetivo, mais reforçado ainda quando viveu sozinha, depois da separação de Francisco Sousa Tavares. Em “Cebola crua com sal e broa”, Miguel Sousa Tavares, filho dos dois, relembra essa maneira de ser a propósito de uma viagem que MST fez ao deserto do Sara. Quando MST regressou da viagem, a mãe perguntou ao filho:
“-Mas o que há no deserto, Miguel?
-Nada, mãe.
-Nada?
-Nada. Areia e pedras. E à noite há estrelas.
Calava-se, então. Essa era uma das suas características mais pessoais: podia-se calar a meio de uma frase de um interlocutor e ficar assim, como se tivesse partido para outro planeta, sem aviso. Quem não a conhecia bem, ficava sem chão, sem saber o que fazer. “
E MST conclui:
“Mas eu sabia, também aprendi com ela que saber partilhar o silêncio é a forma mais íntima de estar com alguém.”
Na mesma passagem do livro, MST refere como Sophia organizava a sua biblioteca: “os livros de que gostei e os livros de que não gostei”. E dizia Sophia a propósito disso: “Sabe, Miguel, cheguei à conclusão de que, como já não vou ter tempo de ler todos os livros que precisaria de ler, o melhor é voltar sempre àqueles de que mais gostei.”.

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