Os
livros do António Mota são sempre uma delícia. Mesmo quando já se é adulto,
sabe bem reler aquela prosa sentida de quem conhece bem os miúdos e jovens e
compreende as suas crises de crescimento. “Pedro Alecrim” foi o seu primeiro
grande êxito mas muitos outros se seguiram: Os Sonhadores; Cortei as Tranças; A
Casa das bengalas; etc.. Numa escrita limpa e rápida, parece que está tudo “bem
lubrificado”. Lê-se num instante e ficamos reconfortados connosco próprios
porque nos reconhecemos (ou nos queremos reconhecer) naquelas personagens.
Por
exemplo o Luís, nesta passagem de “Pedro Alecrim”:
“Muito alto, sempre bem vestido, de cabelos compridos e
encaracolados, o Luís pesa o dobro de mim e nunca está calado. Não sei onde
aprendeu tantas anedotas e adivinhas, nem como consegue inventar tantas piadas.
Em dias de prova de avaliação aparece sempre de gravatinha
e cinto largo. A principio era uma grande risota vê-lo assim encadernado. Havia
piadas. Mas o Luís não se aborrecia. E avisava:
– Podem rir mais, muito mais! Riam muito!... Mas fiquem sabendo
que tenho muito respeitinho pelas avaliações…
Não demorei muito tempo a descobrir a razão daquela
estranha forma de vestir em dias de prova escrita. O Luís serve-se da gravata,
do cinto e das mangas da camisa para colocar copianços.
Ontem começámos a rir quando a professora de Português
ameaçou que se descobrisse alguém a copiar, o punha logo fora da sala e lhe
dava zero.
E o Luís, o gordo Luís, com o ar mais sério do mundo:
–Ó stôra! Copiar? Nós?!... Era o que faltava… A gente não
sabe fazer destas coisas… Ainda somos muito novinhos…”
Ora
vejam aí na estante se não há ainda um livrinho do António Mota para ler.
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