O início da PEREGRINAÇÃO, de Fernão Mendes Pinto, é um texto que
prepara o leitor para uma narrativa cheia de peripécias. O desafio aos alunos de
Literatura Portuguesa era recriarem o motivo que levou Fernão Mendes Pinto a
fugir da casa de uma dama nobre onde servia (capítulo I da Peregrinação). A
Marina Gomes, do 11º F, imagina a sequência da narrativa.
Ora,
pois bem, como já vos disse, vivi na miséria e estreiteza da casa do meu pai e,
quando tinha dez ou doze anos (a minha memória não sofre de transtorno de acumulação
compulsiva), fui levado pelo meu tio para Lisboa, para ter, talvez uma vida melhor.
Coitado,
pensava que eu ia ter uma vida melhor!
Servi
D. Joana da Silva e Castro, dama “assaz nobre” diziam eles! Ignorantes. Um ano
e meio depois de ter começado a servir esta pobre dama, apanhei-a envolvida com
o meu pai. Naquele instante, o pavor tomou conta de mim. “Tenho de contar à
minha mãe”, pensava eu. O que eu não sabia é que tinha sido apanhado a
apanhá-los, cogitava que eles não me tinham visto, ingénuo.
Quis
sair de casa e, quando já estava a talvez três ou quatro passos de o fazer,
apareceu a D. Joaninha Traidora da Silva, não compreendia como fora tão rápida.
Levou-me para um quarto que, até então, eu desconhecia, sem janelas e sem nada
que pudesse refletir alguma luz, e deixou-me sozinho. Reconheci, então, o pesadelo
de muitos garotos designado de “quarto escuro”. Tremia, cheio de medo, não sabia
quanto tempo ia lá ficar. De repente, ouço a porta ranger e entrou no quarto a pior
mulher que eu tinha conhecido a agarrar um gatinho pelo pescoço na mão direita
e com uma faca na mão esquerda. Não tive tempo para pensar em nada, estava aterrorizado
e, para piorar, ela ordenou-me que não tirasse os olhos dela. Assim o fiz, comandado
pelo medo. A mulher tinha decapitado um pobre gatinho mesmo à minha frente e,
cheia de lata, ameaçou-me dizendo que se eu contasse alguma coisa do que tinha
visto naquele dia, ela fazia comigo o mesmo que fez com aquele gatinho. Fiquei com
vontade de vomitar para cima dela, mas a única coisa que fiz foi fugir.
Marina
Fernandes Gomes, nº 22 - 10º F
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