Partindo da crónica de Miguel Esteves Cardoso, no manual, A atividade de não ler, no âmbito do estudo das reflexões do Poeta n’ Os Lusíadas (crítica à desvalorização das Artes e das Letras), os alunos deviam escolher uma frase e criar outro texto. Aqui fica o texto da Beatriz Madeira, do 10º D.
A experiência de ler em público
A
partir da frase "Em nenhum outro país da Europa é tão raro ver
alguém a ler um livro em público.".
Recentemente,
li uma crónica no qual se fala sobre a raridade de ver alguém ler em público em
Portugal. Na verdade, isto não é um choque para mim. Para vos explicar melhor o
meu ponto de vista, vou contar-vos sobre as minhas experiências de ler em
público.
Ainda me lembro da primeira vez que fiz essa
radicalidade. Estava um dia lindo, quente, ensolarado e, após um inverno rigoroso,
senti a necessidade de aproveitar aquela luz. De facto, já estava farta de ler
na biblioteca; o espaço é acolhedor, mas chega um momento em que não se
consegue aproveitar o potencial de um livro devido a demasiadas distrações.
Então, tomei essa iniciativa: sentei-me no banco mais longe dos portões e,
deixem-me dizer-vos, era o lugar perfeito. Longe o suficiente das portas para
não ouvir o incessante barulho das multidões, mas perto o suficiente para não
me sentir sozinha. O banco fazia um ângulo de 45 graus com uma árvore lá perto,
o que permitia que houvesse uma sombra virada para mim, impedindo o sol de me
prejudicar na leitura, mas ainda sentindo o seu calor na minha pele. O bónus
desse lugar é que tinha vista para uma linda fonte cujo sol cristalizava as
suas águas. A partir daí, foi naquele sítio que decorreram as minhas sessões de
leitura. No início, foi constrangedor: cada pessoa que passava, olhava para mim
como se estivesse a fazer algo fora deste mundo; depois, fui-me habituando à
ideia de ser o centro das atenções, por pura e simplesmente estar a ler um
livro.
Eu passo muito do meu tempo a ler. Acho que
comunico mais com os livros do que com os meus colegas, e há sempre aquela
ocasional pergunta “Esse livro é para que disciplina?”, sendo que a minha
resposta deixa a maior parte das pessoas incrédulas, “Nenhuma.”
É
triste, às vezes, ver as pessoas a ignorar os livros; mas ainda é mais absurdo
ver as suas reações perante uma que goste de verdadeiramente ler, especialmente
livros grandes. Até hoje, raramente vi alguém a ler ao ar livre; porém, ainda é
mais raro não ver alguém a olhar para essa pessoa como se fosse lunática.
Beatriz
Madeira, 10ºD
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