Hoje é 10 de junho e dia de Camões, para além de Dia de Portugal. A obra “Os Lusíadas” deu cabo da paciência dos alunos até aos anos 70 do século passado quando se tratava de dividir orações ou de desencravar o sentido
daquela "anormalidade" que era colocar as palavras todas ao contrário do que era
o falar corrente. Para quê, Luís Vaz? Depois, até ao 25 de abril de 1974 ou um pouco
antes, havia o “Canto IX”. Ou melhor, não havia… Tenho na minha frente “Os
Lusíadas”, editado por Artur Viegas, 9ª edição, de 1972, “Anotados para uso
das escolas com as devidas omissões”. Dizia Artur Viegas (pseudónimo
do Padre jesuíta A. Antunes Vieira) no seu prólogo:
“Infelizmente, porém, — todas as
pessoas de são critério o confessam e deploram — OS LUSÍADAS, tais como saíram
da pena de Camões, não podem, sem graves inconvenientes, ser postos em todas as
mãos, mormente de gente moça. “Maxima
debetur puero reverentia” — era sentença acatada entre os próprios
escritores pagãos”. Seria pois imperioso “expungir os passos mais
inconvenientes e escabrosos”. E conclui o anotador da obra: “Se esta nossa
resolução merecer aplausos de honestos chefes de família e de criteriosos
pedagogistas, terá obtido o melhor encómio e recompensa a que possa aspirar;
embora por outro lado lhe não hajam de faltar mordazes críticas oriundas de
certa escola, que a brados apregoa e a todo o transe pretende sustentar a
teoria não menos danosa que cerebrina, de que “todos os livros se podem meter
em todas as mãos!”. Censuras ditadas por semelhante critério só nos merecem
desdenhoso desprezo.”. O prólogo é de 1921 mas continua na edição de 1972. No
entanto é curioso como em 1921 já se sentia o movimento contestatário a estes
cortes (“certa escola”).
Consultadas as estâncias em falta,
elas são, no canto IX, as estâncias 65 a 83 (jogos de amor dos marinheiros com
as ninfas na Ilha dos Amores). Outra cena censurada é a parte em que Vénus vai
solicitar no Canto II o favor de Júpiter, seu pai, mas, para o aliciar e
seduzir para a sua posição, vai quase nua e numa apresentação hipersensual
(estâncias 34 a 38). O resto são meia dúzia de estrofes, aqui e ali, em que as
ninfas ou Vénus ou mesmo os deuses aparecem tal como a natureza os fez. Havia necessidade?
J. Igreja
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