Escritor brasileiro, José Bento Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de
1882, na cidade de Taubaté, São Paulo (Brasil). Filho de proprietários rurais,
teve a possibilidade de empreender estudos superiores. Em 1918 publicou o seu primeiro livro, uma compilação de contos
que levava o título de Urupês. Entre as publicações da editora, figuravam
sobretudo livros infantis, na sua maioria escritos pelo próprio Monteiro
Lobato, e através dos quais passou à posteridade especialmente a série 'O Sítio
do Picapau Amarelo'. Consagrou-se como romancista em 1926, ao publicar O
Presidente Negro ou O Choque das Raças, obra polémica que considerava a
possibilidade da ascensão de um candidato negro à Presidência dos Estados Unidos
da América. Publicou a obra Fábulas,
fazendo a adaptação das fábulas de Esopo e La Fontaine. Acabou por falecer,
vítima de um derrame cerebral, a 4 de julho de 1948, na cidade de São Paulo.
Transcreve-se a seguir uma
fábula que parece bastante atual – como todas as outras – e que versa a questão
da administração da justiça.
Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver
furtado um osso.
- Para que furtaria eu esse osso - alegou ela - se sou herbívora e um
osso para mim vale tanto quanto um pedaço de pau?
- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la aos
tribunais.
E assim fez. Queixou-se ao gavião-de-penacho e pediu-lhe justiça. O
gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus
de papo vazio.
Comparece a ovelha. Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito
irmãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu
a sentença:
- Ou entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte!
A ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não tinha e não podia,
portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento do que não
furtara.
Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, espostejou-a, reservou para si um
quarto e dividiu o restante com os juízes famintos, a título de custas...
Moral da história: Fiar-se
na justiça dos poderosos, que tolice!... A justiça deles não vacila em, partindo
do branco, solenemente decretar que é preto.
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