O autor a ler um poema numa sessão pública |
Há cerca de 5 anos (abril 2012), o poeta manuel a. domingos, que volta à ESAAG para duas conversas com alunos no dia 27, deu ao jornal EXPRESSÃO uma entrevista sobre a sua atividade profissional e de escrita. Porque ela reconstitui um pouco da vida do autor, aqui fica de novo este texto sobre o poeta de Manteigas que andou na ESAAG, ou, como ele diz, no Liceu.
ENTREVISTA
Que curso frequentou e
qual a razão da escolha?
Depois de deixar o Liceu (para mim será
sempre o Liceu, pois havia a Escola e o Liceu e eu andava no Liceu), entrei num
curso de nome Secretariado de Administração, na Escola Superior de Tecnologia e
Gestão da Guarda – Instituto Politécnico da Guarda. A razão da escolha foi
simples: passei os três anos de Liceu a passear os livros e só no último ano é
que acordei para a minha triste realidade: não tinha média para entrar no curso
que queria (Direito). Assim, entrei em Secretariado de Administração. Andei lá
um ano e fiz todas as cadeiras à exceção de Alemão. Levava aquilo a sério, mas
não me sentia lá bem. Ao fim desse ano letivo (95/96) decidi mudar de curso e
escolhi Professores do Ensino Básico, variante Português-Inglês, na Escola
Superior de Educação da Guarda, também no Instituto Politécnico da Guarda. Em
2000 terminei o curso e o mundo estava a meus pés.
Correspondeu às expectativas que tinha, quando frequentava o secundário?
Como eu queria entrar em Direito, nenhum
dos cursos correspondeu às minhas expetativas. No entanto, fui ganhando o gosto
ao curso que acabei por tirar, principalmente depois de ter feito estágio no 1º
ciclo e ter dado aulas a uma turma do 2º ano. Foi uma experiência muito boa. A
partir daí levei as coisas mais a sério.
Como foi a entrada no mundo do trabalho?
Não foi lá muito boa. Na altura ainda
havia miniconcursos e eu só pude concorrer a isso. Os miniconcursos tinham uma
regra que dizia que apenas podíamos ficar “afetados” a um distrito do país.
Optei pela Guarda, pois na altura namorava com uma rapariga que ainda estudava
na ESE (o amor, ai o amor) e espírito de aventura era coisa que não tinha. Não
fiquei colocado logo ao início, não arranjei colocação durante o ano todo e
passados três meses já não namorava. Fiz um pouco de tudo: dei explicações, fui
recenseador nos Censos 2001, fiz uns trabalhos para aqui e para ali. Vivi.
Além do “Mapa”, que outras publicações teve? Porquê a poesia?
O Mapa é o meu segundo livro de poemas.
Foi publicado em 2008 pela Livrododia (Torres Vedras) e pelo seu corajoso
editor: Luís Filipe Cristóvão. Antes do Mapa tinha publicado, em 2002, o livro
Entre o Silêncio e o Fogo. Edição ficou a cargo do Aquilo Teatro (Guarda). Fui
convidado para lá publicar por outra pessoa corajosa: Américo Rodrigues. Escrevi,
ainda, uma peça de teatro. Foi uma peça escrita a quatro mãos com António
Godinho: Eu queria encontrar aqui ainda a terra. É uma peça de teatro que, à
sua maneira, fala sobre a Guarda e sobre Vergílio Ferreira e Eduardo Lourenço.
Tenho poemas publicados em revistas e antologias. Traduzi dois livros: Ártico
(Xavier Queipo) e Ham on Rye: Pão com fiambre (Charles Bukowski). E porquê a
poesia? Porque não tive outro remédio, escolha possível.
Há pouco tempo, em edição de autor, saiu
mais um livro de poesia, “Teorias”. Que teorias são essas?
Teorias foi publicado em 2011. São poemas
que fui escrevendo entre 2008 e 2011. O livro é um pouco a minha visão do
mundo, da vida. Os poemas são atravessados por uma certa ironia e um bocadinho
de cinismo. Mas ainda não há distância suficiente para melhor falar deles.
Que projetos para o futuro quer a nível profissional, quer a nível pessoal?
A nível profissional – se me deixarem –
pretendo continuar a dar aulas. Há dez anos que sou professor contratado. Dei
aulas em Pampilhosa da Serra (2001-2002), Tábua (2002-2003), Silves
(2003-2004), Miranda do Corvo (2004-2005), Caxias – Estabelecimento Prisional
(2005-2006), Figueira da Foz (2006-2007), Benedita (2007-2008), Alapraia e São
Teotónio (2008-2009), Coruche (2009-presente). A nível pessoal quero continuar
a escrever; já não sou capaz de deixar de o fazer.
O que recorda dos tempos da Afonso de Albuquerque?
O Liceu foi para mim um
admirável mundo novo. Eu vinha de Manteigas. O colégio onde tinha estudado
tinha perto de 300 alunos (7º, 8º e 9º). “Caí” numa escola com mais de 2000.
Foram anos fantásticos, em que andar no 12º ano com apenas três disciplinas
dava algum estatuto. Lembro-me dos corredores enormes, das greves devido à
falta de aquecimento no Inverno, do concerto que os Psicose deram. Lembro
apaixonar-me pela primeira vez.
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