O pensamento camusiano é,
com certeza, dos mais controversos e complexos que marcam todos os que o
compreendem, desde o “suicídio filosófico” até à absurda liberdade e criação, evidenciando-se
os paradoxos (oxímoros?) constantes na própria existência, sendo o mesmo,
notoriamente, uma reflexão sobre o tudo.
Para Camus, Prémio Nobel da
Literatura em 1957, é uma evidente tentativa de compreensão do que o rodeia,
acabando por cair numa certa neutralidade fictícia, pois dentro de si viaja um
tornado de pensamentos, embora nunca os consiga exteriorizar. Algo interessante
de referir é o facto de o filósofo usar quase sempre frases declarativas na sua
escrita, não demonstrando emoções, o que acaba por acentuar a sua indiferença meramente
aparente. Quase me atrevo a comparar o seu tumulto interior ao segundo
andamento da famosíssima obra “A Sagração da Primavera” de Igor Stravinsky, “O
Sacrifício”, onde, para quem o ouve pela primeira vez (ou, até mesmo, a obra
completa) acaba por estranhar e por não compreender a genialidade da obra (da
primeira vez que o compositor apresentou a mesma, os espectadores, assim que o
concerto acabou, atiraram ao palco as cadeiras onde estavam sentados!). Camus
não compreendia o mundo e, paralelamente, o mundo não o compreendia, caindo,
assim, em diversas reflexões sobre a sociedade da qual ele é um mero
passageiro.
De certo modo, o autor
considera-se, como já referi, um passageiro no mundo, derivando daí o seu livro
mais célebre, “O Estrangeiro”, o qual retrata acontecimentos da vida de um
indivíduo que leva uma vida banal cuja, mais tarde, toma um rumo inesperado. A
primeira frase desta obra é “Hoje, a mãe morreu.”, o que começa por demonstrar
o caráter absurdo e existencialista de Sr. Meursault, o personagem principal da
obra. Este indivíduo vive num pequeno apartamento, isolado e alheio ao mundo,
até que um vizinho seu começa a interagir com ele, mas Meursault não demonstra
qualquer interesse em desenvolver uma amizade com esse indivíduo, visto que o
mesmo era inculto, rude e bastante violento. No entanto Meursault continua a
relacionar-se com Raimundo, mas nunca se deixando afetar pelo mesmo, mostrando
uma indiferença constante. No entanto, uma mulher captou a atenção deste
“passageiro”, Maria, apaixonando-se por ela, mas nunca perdendo a sua passividade
perante a vida. A certa altura da história, Meursault, Maria, Raimundo e outros
amigos seus decidem passar férias, viajando até uma casa à beira mar, onde,
certo dia, uns indivíduos Árabes decidem “atacar” Meursault e os seus amigos, e
este acaba por matar um desses Árabes a tiro, cruelmente. Esta morte é
significativa para a compreensão da obra e da corrente filosófica presente na
mesma e, de igual modo, para o desenrolar da história deste, até então,
indivíduo ordinário. Na segunda parte da obra, Meursault é julgado pelo seu
crime; no entanto este não demonstra quaisquer remorsos e relevância perante a
situação, mantendo sempre a sua postura desinteressada.
Durante o julgamento, a
frieza de Meursault é bastante enfatizada, e um dos factos que sustenta a sua
frieza é o mesmo não ter mostrado qualquer emoção no que toca à morte da sua
mãe, sendo o mesmo condenado à pena de morte. Por fim, a obra termina com
Meursault a pensar para si mesmo: “Para que tudo ficasse consumado, para que me
sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público no dia da
minha execução e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio.”
Em suma: esta obra retrata
claramente a filosofia existencialista e niilista de Camus de uma forma direta
e simples, levando o leitor a refletir sobre o enredo da história e, de igual
modo, sobre o pensamento do conceituado filósofo.

Luciano Gomes, 12º E
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