Emanuel Santos estudou na nossa Escola já
lá vão uns anitos. Tinha um sonho latente e foi no seu encalço. Estudou nas
Caldas da Rainha e em Lisboa. Hoje exerce a sua atividade profissional na Guarda, onde, pelos vistos, se sente feliz. E apesar das andanças arredias dos
anos de secundário hoje reconhece a utilidade do saber escolar. Que o seu
testemunho sirva de incentivo aos que hoje frequentam a nossa escola para que
estes se motivem para a vida.
Existem
palavras-chave que tornam esta reflexão tão importante. Uma delas é a expressão
full circle que significa que, depois
de várias experiências e passado algum tempo, acabamos no ponto em que
começamos. Esse é o ponto principal desta viagem.
Era
uma vez, há cerca de cinco anos, um rapaz que, depois de ter acabado o ensino
secundário, sabia o que queria fazer, mas não tinha certezas nenhumas do
resultado final. Decidiu saltar de cabeça, do alto de um arranha-céus, mas sem
perceber se no final dessa queda existiria um colchão, uma piscina, seja o que
for que pudesse amparar o impacto. O desejo de sair da cidade do interior era
grande dentro do rapaz de 18 anos, que não tinha ideia nenhuma da
montanha-russa em que a sua vida se iria tornar desse momento em diante. Uma
licenciatura em Teatro depois, começou a trabalhar em Lisboa, embebido pela
pressão de que para singrar nessa carreira era necessária a permanência na
capital. O problema foi quando o confronto entre a carreira e a felicidade
começou. Não era workaholic o
suficiente para ficar feliz apenas com uma carreira que parecia estar a nascer,
e para ajudar não era dormente o suficiente, para ignorar as questões afetivas
e a sua própria capacidade psicológica. Este rapaz não adora a Guarda, não me
entendam mal, queridos leitores, mas entre esta localidade e Lisboa, acreditem,
ele prefere a sua pequena e pacata cidade. Decidiu voltar, não com o sentimento
de que perdeu ou desistiu, mas sim com uma vontade de provar a toda a gente que
Lisboa não é o centro de Portugal, e que existe vida em todo o país, que
precisa de ser agitada por mentes mais novas e valores (em alguns aspetos)
diferentes dos que servem de base à sociedade do interior.
Passada
a introdução, irei virar agora a reflexão para a primeira pessoa, visto que o
que vou contar já se desenrola num passado mais próximo. Chegado de novo à
Guarda, eu trazia na bagagem algo que me iria permitir estar na cidade, um
estágio curricular. Tinha, no entanto, uma vontade enorme de voltar a um dos
locais que foi mais importante para mim, a escola de dança O Estúdio, onde mais uma vez fui recebido
como um velho amigo, e me permitiu experiências às quais eu já não estava
habituado. Permitiu-me pisar um palco, que era algo em que eu tinha dúvidas que
gostaria de voltar a fazer. Voltei a lembrar-me da viciante sensação dos
aplausos e do relacionamento com o público que foi o que me levou a entrar nas
artes performativas em primeiro lugar. E a culminação dessa experiência foi eu
estar neste momento a colaborar com a escola, e com uma grande vontade de a ver
crescer.
Costumo dizer que o secundário foi uma
das piores experiências da minha vida, no entanto passados agora uns anos,
percebo que o problema, foi o confronto de egos e personalidades numa idade em
que mal sabemos lidar com a acne, e principalmente a pressão que a sociedade
coloca em nós de termos de pensar a nossa utilidade aos quinze anos de idade.
Esta fase da nossa vida torna-se para alguns, como é o meu caso, numa situação
em que o crescimento pessoal é maior do que o académico. A exigência das
pessoas, seja do corpo docente, seja do grupo de amigos, que é impressa em cada
um de nós, é complicada de gerir, mas no meu caso fez crescer em mim, uma das
minhas maiores marcas de trabalho e também um dos meus principais defeitos: um
perfecionismo desmedido. É engraçado fazer esta viagem pela estrada das
memórias e perceber tudo aquilo que ignorávamos e que hoje em dia usamos sem sequer
pensar. Conhecimento de História que uso muitas vezes como base para os meus
projetos, Literatura que me ajuda a enriquecer os mesmos e, por fim, capacidades
sociais que permitem que todo esse trabalho seja possível, porque as relações
interpessoais são o que mantém este mundo.
Há uns anos atrás, se me dissessem que
voltaria para a Guarda e estaria feliz, eu iria rir-me às gargalhadas. Hoje, no
entanto, vejo que foi uma boa escolha: todas as coisas têm o seu tempo e tudo
acontece por razão, uma das coisas mais importantes que aprendi durante o
secundário. Voltaria a repetir? De certeza que não, mas sei que não seria quem
sou hoje se não tivesse passado por lá.
Emanuel Santos
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