João Luís Monteiro tem 62 anos, 41 de serviço, é
professor de Físico-Químicas e está na ESAAG há 40 anos, feitos no passado dia
1 de outubro de 2018. Terminou o ensino secundário em 1973, fez depois o ensino
superior, o estágio pedagógico na Esc. Secundária José Falcão em Coimbra e em 1
de outubro de 1978 estava regressado à sua escola. Como 40 anos é muito tempo,
fomos falar com ele.
Sim, todos aqueles que cá
encontrei em 1 de outubro de 1978, professores e funcionários, já saíram da
escola, outros infelizmente já morreram. Acresce que andei também como aluno no
Liceu Nacional da Guarda a partir de 1965/66, primeiro no antigo edifício
(atual Esc. Santa Clara) e a partir de 69/70 no atual edifício até 1973. Tudo
somado, são 48 anos.
Recorda ainda os seus primeiros dias como professor na ESAAG em outubro de
1978?
Claro que sim, como se
fosse hoje. Vim encontrar na sala de professores muitos dos meus professores,
as Drªs. Ofélia, Fernanda Cardinal, Marília Raimundo, os Drs. Bonito Perfeito,
Alcindo Martinho, António José de Almeida, etc. E foi o professor António José
que mais me ajudou a integrar, ele que tinha sido meu professor. Lembro-me
também dos meus primeiros horários, que começavam à segunda às 8h30 e iam até
ao sábado às 13h30.
Como era esta escola na altura? Mudou muito?
A grande diferença creio
que estará nos alunos que temos, que são completamente diferentes, sobretudo ao
nível da formação moral e humana. Na altura, muito mais respeitosos e capazes
de acatar a autoridade e as indicações dos professores. Era mais fácil
trabalhar. Quanto aos professores, vivia-se um ambiente em certa medida de
professores “de elite”, que em geral se cultivava nos liceus em contraposição
às escolas comerciais e industriais. O enquadramento era difícil, havia algum
distanciamento em relação aos professores mais velhos.
E a sua postura mudou nesta sua relação com a escola?
Creio que não terei
mudado muito. Sempre defendi que é importante manter a disciplina mas também
afirmar a empatia com os alunos e foi esse o meu lema ao longo destes anos.
Continuo a pensar que o balanço da minha carreira é muito positivo. Quanto à minha
disciplina, Físico-Química, se hoje sou professor desta disciplina, devo-o a um
professor fantástico que tive, Luís Amoreira. Quando encarei a hipótese de ser
professor pensei “Quero ser como este homem”. Se não tivesse ido para
Físico-Química, teria ido para Matemática, onde tenho por referência a
professora Avelina Rainho.
Por seu lado, os professores
António José de Almeida e Francisco Pissarra mostraram-me que, sendo-se muito
bom numa área, se não se captar a empatia dos alunos, isso é uma lacuna grave.
As contínuas mudanças no sistema educativo conseguiram fazer-lhe perder a
calma ou no fim de contas ensinar é sempre a mesma coisa?
As mudanças no sistema
educativo nunca foram tão radicais que não pudesse integrá-las. Os alunos
atuais é que são muito diferentes, com muitos interesses divergentes da escola.
Por outro lado o nosso relacionamento com eles deixa-me às vezes pasmado. Hoje,
para haver uma suspensão de um aluno, mesmo diante de comportamentos
inqualificáveis, é preciso quase um milagre. O ato de ensinar é o mesmo nas
aulas mas os alunos reagem diferente, pela educação que recebem, pelas
perspetivas e pela massa de informação que têm à disposição. Há 40 anos havia
“sede de saber”, hoje há mais alheamento.
Pode dizer-se que se sente realizado com a profissão?
Pela minha parte só posso
agradecer à minha profissão o ter-me realizado tanto. Hoje, se tivesse que
voltar atrás, enveredaria pela mesma profissão. É claro que há dias e dias e
que há momentos em que por questões extra-escola desanimamos. Mas eu entro na
escola e transfiguro-me. Numa sala de aula os alunos não têm culpa dos nossos
problemas e é assim que reajo, tentando mobilizar os alunos. Gosto de estar
aqui, de vir cedo para a escola e nas férias sinto mesmo saudades da escola.
Refira um ou dois aspetos nesta escola que o tenham marcado.
De negativo, acho que a
requalificação da escola, em 2009, se trouxe algumas vantagens, não resultou em
muitos aspetos, por exemplo na climatização. De positivo, dá-me grande prazer
ver os nossos alunos realizados na sociedade e na vida profissional porque o
sucesso dos nossos alunos é o nosso sucesso. Há sempre um bocadinho de nós no
sucesso dos nossos alunos.
Quer referir alguns nomes de professores e funcionários que recorde mais?
A pessoa que mais me
marcou nesta escola, tanto na minha vida de aluno como de professor, foi o
professor António José de Almeida, pela sua postura e personalidade, de grande
nível inteletual, cultural e de um trato pessoal a todos os níveis incomparável.
Lembro-me por exemplo da viagem de finalistas ao Minho, acompanhado pelo professor
António José de Almeida, a esposa, Margarida Almeida e o professor Joaquim
Craveiro. Foi fantástico.
Tem vontade de se
reformar? Ou nem por isso?
Este trabalho para mim é essencial, pelo que tenho mesmo muito receio do
momento da aposentação. Tenho medo do momento em que já não terei de “ensinar”.
Não sei fazer mais nada. Não tenho “hobbies”. Tenho medo de algum vazio que
chegue. Um dia livre para mim é um dia vazio. Quando chegar aos 66 anos, vou
hesitar se me vou reformar.
Que bom ler esta entrevista! Há Professores dos quais não nos esquecemos nunca. Pela postura profissional exemplar, pela clareza da matéria dada nas aulas, pelo cuidado connosco enquanto Director de Turma, pela palavra certa no momento certo: uma influência positiva para toda a vida! Obrigada por tudo, Stôr, saiba que é recordado com muito carinho :-)
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