Sophia
de Mello Breyner Andresen nasceu no mesmo ano que Jorge de Sena. Conheceu-o num dia em que tinha ido a um ensaio de
orquestra no Teatro Nacional de S. Carlos, numa tarde de novembro. Tinha sido
Rui Cinatty a convidá-la e, quando foi apresentada a Jorge de Sena, este
pediu-lhe que recitasse um poema de Pierre Jean Jouve que ela sabia de cor. Ela
recitou:
Mon
Dieu qui est absent infiniment
Un des
yeux sans regard des mains sans étendue
En des
clartés vides et couvertes de printemps
Que l’on
n’atteint jamais par naissance ni mort.
De
repente, diz ela na entrevista que dá ao JL de 25/6/1991, começou a orquestra a
tocar e a música casava bem com o poema, tendo por isso ela guardado uma “impressão
mágica” desse momento.
Jorge
de Sena visitou-a muitas vezes na sua casa e liam os poemas ou livros um ao
outro. Jorge de Sena, dizia ela, sofria muito por não se ver reconhecido como
grande escritor. Ele pensava isso mas havia muita gente a admirá-lo. Ela conta
depois na entrevista um encontro com Jorge de Sena e Adolfo Casais Monteiro na
sua casa, que mostra o drama de não se ser reconhecido.
“E o
Casais Monteiro a certa altura disse-me assim: «Sophia, há uma coisa que não
lhe perdoo». Eu fiquei um bocado aflita, o que é que terei feito? «É que,
Sophia – continuou o Casais – você é um grande poeta e não sabe que é um grande
poeta». «Eu sei – respondi – mas não acho importante que os outros saibam». Aí
o Sena ficou indignado, indignadíssimo, quase gritou: «É preciso que todos
saibam que somos grandes poetas».
O Jorge precisava desse reconhecimento. E isso fê-lo sofrer muito. Tinha
um complexo de mal
aimé, de indesejado. Mas, ao contrário do que pensa, era uma pessoa
muito afetiva."
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