segunda-feira, 11 de maio de 2020

AUTO DA BARCA DO INFERNO VERSÃO 2.0 (5) Cena 4


AUTO DA BARCA DO INFERNO
VERSÃO 2.0
(pelos alunos do 9º E)
CENA 4 - O DONO DE UMA REDE DE CASINOS


 Chega, ao cais, o Dono de uma rede de casinos. O Dono dos casinos tem uma grande ferida na cabeça e traz um fato elegante e uma mala preta, cheia de dinheiro; a saltar na sua mão, uma ficha de jogo.
Dono de casinos – (dirigindo-se ao Diabo) Ó Chifrudo! Como é que posso ir para a Barca da Glória?
Diabo – (rindo-se, confiante) Não sabes que os ladrões vão para o Inferno?
Dono de casinos – (ofendido) Ladrões?! Mas quem sempre ajudou as pessoas é ladrão? Sempre emprestei dinheiro para que os meus clientes jogassem!
Diabo – (apontando-lhe o dedo) Ai, não és ladrão?! Cobraste juros altos e usaste máquinas de jogo ilegais e não és ladrão? Ó, meu irmão: usavas a tentação e o vício para teres lucro!
Dono de casinos – (com um ar de quem se sentia insultado) Máquinas ilegais nunca entraram no meu casino! Estiveram lá, durante algum tempo, máquinas que não estavam registadas, mas foi porque as minhas estavam avariadas!
Parvo – (coçando, ironicamente, a cabeça) Pois, pois,… E estiveram avariadas durante quantos anos? Meio século?
Dono de casinos – Cala-te, ó parvo, que não és para aqui chamado! Por que é que não vais ver se está a chover?
Diabo – (sorrindo, com ar de gozo) Parece que és cá dos meus!!!... (dirigindo-se ao Parvo) Sim, ó parvalhão, vai ver se está a chover! (virando-se, de novo, para o Dono dos casinos) Olha, entra aqui, que podes continuar a ter um casino, lá onde eu reino. Aliás, podemos ganhar muito com essa tua apetência para o engano e a intrujice!
Dono de casinos – Mas eu não sou intrujão, nem nunca enganei ninguém: quem ia ao meu casino jogava porque queria. E se, quando perdiam tudo, me pediam mais dinheiro emprestado para jogar, o que é que eu havia de fazer? Só os queria ajudar a recuperar o que tinham perdido! E é lógico que eu também não podia perder dinheiro: quando emprestava, tinha que cobrar juros, não era?
Parvo – (com um esgar de gozo) Claro: emprestavas 1000 e tinham de te pagar 10000, ó cabrão! Por isso levaste um tiro nos corn…, perdão, nessa cabeçorra, não é?
Dono de casinos – (fingindo não ter ouvido) Mas, afinal, onde se encontra a Barca da Glória? (começa a sair dali)
Parvo – (rindo-se) Mas tu ainda não percebeste que na Barca do Céu não entram merdosos nem ladrões como tu? Quem rouba em vida sofre na morte!
O Dono do casino dirige-se à Barca da Glória, onde se encontra o Anjo, a limpar a Barca.
Anjo – (com voz doce) Que procuras tu nesta Barca?
Dono de casinos – Esta é a Barca que vai para o Paraíso?
Anjo – (com um tom irónico) Sim, a Barca onde tu nunca entrarás!
Dono de casinos – (irritado) Por que não hei de eu entrar?
Parvo – (troçando) Ó seu cabrão!!! O dinheiro no estrangeiro para fugir aos impostos não te diz nada?  Tanto que andaste a mamar nas máquinas ilegais!...
Dono de casinos – (aos berros) Respeito! As máquinas eram antigas e estavam viciadas, perdão, avariadas!
Parvo – (troçando) Fugiu-te a boca para a verdade, não foi? Coi-ta-di-nho!!!...
Anjo – E quanto aos impostos? Aqueles que não pagavas, prejudicando todos os teus compatriotas? É mentira?
Dono de casinos – Olhe, não tinha como pagar os altos impostos, porque ajudava quem mais precisava: como emprestava muito dinheiro e nem sempre mo devolviam a tempo, não tinha dinheiro para pagar nada.
Anjo – Neste Batel não há lugar para a mentira nem para as malas de dinheiro. A outra Barca sim, terá lugar para ambos.
Dono de casinos – (suplicando) Olhe, Anjinho, eu pago-lhe tudo o que me pedir para entrar na sua Barca. (abre a sua pasta e mostra o dinheiro) Vê, tenho aqui mais do que o suficiente para o bilhete!
Parvo – (rindo, enquanto o Anjo acena que não com a cabeça) Um bom anjinho me saíste tu, se achas que o dinheiro sujo paga a entrada nesta Barca linda! E em dólares, né?
Dono de casinos – E eu a pensar que tinha feito tão bem a tantos! Então, sempre é para aquela Barca que me devo encaminhar, não é? (com um ar cabisbaixo e abatido) Vamos lá, então.
O Dono dos casinos dirige-se, de novo, triste e cabisbaixo, à Barca do Inferno, onde um Diabo sorridente o espera.
Diabo – Embarca, não temos tempo a perder! E senta-te ali, junto aos remos, que aqui não há capangas nem seguranças: cada um rema por si!

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