terça-feira, 2 de junho de 2020

A PARTIR DE UMA CRÓNICA DE MIGUEL ESTEVES CARDOSO (4) Alunos do 10º ano escrevem sobre ler e não ler


Partindo da crónica de Miguel Esteves Cardoso, no manual, A atividade de não ler, no âmbito do estudo das reflexões do Poeta n’ Os Lusíadas (crítica à desvalorização das Artes e das Letras), os alunos deviam escolher uma frase e criar outro texto. Aqui fica o texto da Beatriz Madeira, do 10º D.

A experiência de ler em público

A partir da frase "Em nenhum outro país da Europa é tão raro ver alguém a ler um livro em público.". 
Recentemente, li uma crónica no qual se fala sobre a raridade de ver alguém ler em público em Portugal. Na verdade, isto não é um choque para mim. Para vos explicar melhor o meu ponto de vista, vou contar-vos sobre as minhas experiências de ler em público.
 Ainda me lembro da primeira vez que fiz essa radicalidade. Estava um dia lindo, quente, ensolarado e, após um inverno rigoroso, senti a necessidade de aproveitar aquela luz. De facto, já estava farta de ler na biblioteca; o espaço é acolhedor, mas chega um momento em que não se consegue aproveitar o potencial de um livro devido a demasiadas distrações. Então, tomei essa iniciativa: sentei-me no banco mais longe dos portões e, deixem-me dizer-vos, era o lugar perfeito. Longe o suficiente das portas para não ouvir o incessante barulho das multidões, mas perto o suficiente para não me sentir sozinha. O banco fazia um ângulo de 45 graus com uma árvore lá perto, o que permitia que houvesse uma sombra virada para mim, impedindo o sol de me prejudicar na leitura, mas ainda sentindo o seu calor na minha pele. O bónus desse lugar é que tinha vista para uma linda fonte cujo sol cristalizava as suas águas. A partir daí, foi naquele sítio que decorreram as minhas sessões de leitura. No início, foi constrangedor: cada pessoa que passava, olhava para mim como se estivesse a fazer algo fora deste mundo; depois, fui-me habituando à ideia de ser o centro das atenções, por pura e simplesmente estar a ler um livro.
    Eu passo muito do meu tempo a ler. Acho que comunico mais com os livros do que com os meus colegas, e há sempre aquela ocasional pergunta “Esse livro é para que disciplina?”, sendo que a minha resposta deixa a maior parte das pessoas incrédulas, “Nenhuma.”
É triste, às vezes, ver as pessoas a ignorar os livros; mas ainda é mais absurdo ver as suas reações perante uma que goste de verdadeiramente ler, especialmente livros grandes. Até hoje, raramente vi alguém a ler ao ar livre; porém, ainda é mais raro não ver alguém a olhar para essa pessoa como se fosse lunática.
Beatriz Madeira, 10ºD

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