quinta-feira, 24 de março de 2022

PRÉMIO EXPRESSÃO VOX POPULI 2021/22 O texto do 2º lugar, de Maria Correia



Aqui fica o texto do 2º lugar  do PEVP - TEXTO, da Maria Correia.

 TEMA A: Os jovens costumam andar arredados da realidade política, na sua grande maioria. Raros são os que cedo começam a ganhar consciência política e a participar ativamente na vida social. A verdade é que a falta de consciência política e de cidadãos comprometidos está a provocar o avanço de ideologias extremistas no nosso país e na Europa. Em semana de eleições expõe o teu pensamento acerca de como encaras a atividade política e como vês a importância das eleições e a obrigatoriedade de votar. Numa crónica / texto de opinião de 300 a 400 palavras, destinada a um jornal local, mostra-nos como é que os olhos de um(a) jovem como tu veem este tema atual.

 Estamos em decadência. Utilizo a primeira pessoa do plural na afirmação, pois eu própria me incluo no axioma apresentado. A minha geração, que nunca vivera numa era não democrática, torna-se agora o agente mais ativo na sua destruição. Claro que não de uma forma direta (assim pensam os jovens): oxalá nunca os confrontemos com a sua irresponsabilidade para com a mãe da nossa liberdade - a democracia. Seria o equivalente a comprar um bilhete para assistir em primeira mão à mais extensa e filosófica reflexão sobre como a política é desinteressante e por esse motivo - passo a citar - “não fui votar”. Custa-me ver que uma geração que teve todas as condições sociais para ser a mais letrada se torne a causadora da futura iliteracia. É profundamente triste ter de afirmar este paradoxo.

Por outro lado, percebo também que a política não está destinada aos jovens, mas sim às pessoas que têm memória presente dos tempos vividos antes do 25 de abril, quer seja por os terem presenciado ou por terem sido ensinados à base das profundas marcas estruturais deixadas por quase meio século de repressão e conservadorismo.

Porque é que afirmo estas premissas? Penso que é fácil de compreender: são estas pessoas que realmente têm a memória viva (seja por passagem de testemunho ou por vivência própria) de toda a luta - muitas das vezes intelectual - que a implementação da liberdade necessitou. Vejo que os jovens da minha geração encaram o extremismo e até a ideologia salazarista como algo “do passado”, mas é nesse momento que reflito e afirmo: ambos persistiram no tempo e, com o nosso desinteresse, alimentamos a rutura da nossa liberdade, a única certeza que aprendemos desde que temos ideia que existimos.

Tenho o desejo profundo de que a minha geração acorde, que lute, que não tome por garantido ter capacidade de pensamento próprio, pois os meus avós nunca tiveram direito a tal na sua juventude. Apesar do voto não ser legalmente obrigatório (e ainda bem, pois mesmo que direito e obrigatoriedade coexistam em diversos aspetos, a existência de voto obrigatório implicaria a perda da ideia de direito), é obrigatório para com as gerações passadas, as do presente e as que ainda virão.

Quero continuar a pensar, não quero as minhas asas cortadas. Preciso da democracia com a reciprocidade com que ela precisa de mim.

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