NEM FRIO, NEM BOCA APRISIONADA
O Clube de Oralidade “Pensar Alto” é fruto do protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal da Guarda e o Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, nomeadamente entre a Divisão de Educação, Intervenção Social e Juventude, e o Grupo de Filosofia da Escola Secundária Afonso de Albuquerque.
No presente ano letivo, reiniciámos o Clube de Oralidade “Pensar Alto”. O Projeto sofreu algumas alterações, embora a essência do mesmo se tenha mantido. Pela primeira vez deixámos de ter o mesmo grupo de alunos e a mesma sala de encontros. Este ano conversei, em sala de aula, com alunos de várias turmas do 10º Ano e 11º Ano. As salas de aula foram espaços de debate e de discussão sobre diferentes temas da atualidade e problemas que inquietam os jovens. Tal como se pretendia, as capacidades discursivas e argumentativas, no domínio da oralidade, acabaram por ser promovidas.
João Guilherme Ferreira do Carmo, aluno do 10º C, escreveu no “Blogue Expressão”: “julgo que foi extremamente proveitoso este confronto de ideias e esclarecimento de preconceitos, quer para nós, quer para o técnico da Câmara Municipal.”.
No ano de 2019, António Maria Cabral Simões escreveu: “Foi sem dúvida uma experiência bestial com a qual adquirimos não só novos conhecimentos, como também aprendemos e melhorámos a nossa capacidade argumentativa. Espero que o Clube continue para o ano e que empolgue outros jovens tal como me empolgou a mim!”.
São estes testemunhos que nos motivam e reforçam a importância do projeto para os alunos. Os temas selecionados para debate tiveram sempre como introdução um poema. Depois de interpretarmos os poemas, debatíamos os temas recorrendo a estudos publicados em jornais nacionais de referência. De realçar o compromisso, por parte dos professores de Filosofia, para que o projeto se concretizasse. A presença dos professores nas sessões foi muito importante. Neste ponto, saliento de uma forma especial, até pelo facto de ambos fazerem parte do projeto desde a primeira hora, os professores António Madeira e Luísa Fernandes.
No meu entender, apenas os projetos de continuidade conseguem edificar valorosos e distintos contributos para os territórios. É seguramente importante que os jovens sejam identificados e perfilhados como protagonistas. É importante construir uma Escola atraente.
Como sabemos, os Agrupamentos de Escolas não existem separados das comunidades locais e o encadeamento com os agentes externos assume extrema relevância.
A indecorosa colonização cultural, a ideologia despótica que promove o pensamento único, o policiamento da linguagem e a perigosa violação à liberdade de expressão constituem contextos que foram sempre repelidos no Clube de Oralidade “Pensar Alto”. Jamais devemos rotular comportamentos, procedimentos e indivíduos. Dispensamos os vassalos e abraçamos os cidadãos.
É necessário escutar, não apenas ouvir, os nossos jovens, pois são eles os atores principais dos efeitos atração e rejeição, bem como das transformações que acontecem na morfologia do espaço. Necessitamos de massa crítica exigente e perseverante para acreditar. O pensamento individual tem obrigatoriamente de ser impulsionado. Os jovens jamais podem ser apelidados de “atores decorativos”! Os alunos demonstraram ter opiniões incisivas sobre os temas propostos!
A inclusão, a reflexão, o pensamento crítico, a valorização da diversidade cultural, o aperfeiçoamento das capacidades cognitivas e sociais, a ligação à literacia, a amputação dos preconceitos e da discriminação constituem condições que devem ser permanentemente avigoradas. O Clube de Oralidade "Pensar Alto" vai continuar no próximo ano letivo! Grato aos professores e alunos envolvidos!
Reiniciei este projeto com o poema "Lágrima de Preta" de António Gedeão, termino este texto com o poema "Impressão Digital" do mesmo autor.
Impressão digital
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não veem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns veem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns veem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.
Alexandre Gonçalves
(Técnico Superior da Câmara Municipal da Guarda)
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